terça-feira, 19 de maio de 2009

UM TEXTO RETIRADO DO SITE www.carosouvintes.org.br


Cinco assuntos em uma coluna!
18/05/09
Senhor locutor. Técnica pioneira. Mesquinhez ou… Kilohertz? Chefão esquisito.
• Eu era um garotão, já morava em Curitiba e numa de minhas idas a Joinville, minha terra natal, para visitar meus parentes, ouvi um novo e bom som: o da Rádio Difusora de Jaraguá do Sul, cidade vizinha. Uma das vozes bonitas que anunciavam o novo prefixo de Santa Catarina era a de um jovem locutor de nome Souza Miranda.
Anos mais tarde, em 1951, quando iniciei no rádio em Curitiba, ele fazia parte do quadro de locução da Clube Paranaense, a de prefixo PRB-2, primeira emissora do Estado e terceira do país, então líder de audiência na capital do Paraná.
Natural de Morretes, município litorâneo paranaense, Miranda tem três marcas em sua carreira difíceis de serem igualadas: atuação em maior número de emissoras trabalhou em cinco estados limítrofes (Rio, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e maior tempo exercendo a profissão de radialista.
Souza Miranda, em julho deste ano completará 81 anos de idade e 65 de atuação como radialista profissional. Conhecido como o maior “andarilho” da radiodifusão brasileira, merece figurar no Guinness World Records.
Ainda está na ativa apresentando programa de bate-papo com o ouvinte (Souza Miranda e Você), as terças e quintas, das 12h30 às 13h00, na Rádio mais Alegria (
http://www.radiomaisalegria.com/), de Florianópolis, cidade que há alguns anos escolheu para morar, em definitivo, e onde vive com sua família e tem muitos amigos.
Na sua carreira de radialista, ele não ficou só na locução. Além de animador, radioator, produtor e cantor, até novela escreveu, isso quando de sua passagem pela Rádio Cultura, de São Paulo, nos tempos em que esta emissora era comercial.
A par desses cargos todos, exerce ainda com êxito a função de contato comercial, corretor de anúncios, como se dizia antigamente. Ao Souza Miranda, companheiro de algumas jornadas, desejo muita saúde, com votos para que continue no ar durante muito tempo. Sou seu fã.
• Central Técnica é uma inovação que surgiu no rádio nos anos 1950, mas que só foi implantada em Curitiba em 1965. Como diretor da Rádio Independência, fui pioneiro ao dotar aquela emissora de um centro de operações. Antes, o estúdio técnico, acoplado ao estúdio de locução, além de manter a estação no ar, fazia todo tipo de operação. Muitas vezes a movimentação de espera para uma transmissão externa atrapalhava, e muito, o andamento da programação normal da rádio.
Por incrível que possa parecer, 11 anos mais tarde, quando assumi a direção da Nacional, de São Paulo, prestes a passar a ser denominada Globo, esta rádio ainda não tinha uma Central Técnica, condição sine qua non para colocar no ar programas jornalísticos movimentados.
No rol de minhas realizações naquela emissora está cravada a instalação desse importante requisito técnico. E foi com grande emoção e orgulho que vi a nova Rádio Globo, em outubro de 1977, sob a batuta do competente operador Chico Vieira (ex Rádio Jovem Pan) inaugurar sua Central Técnica. Exatamente no dia da estréia de Osmar Santos e sua equipe esportiva nos 1.100 kilohertz.
Essa indispensável providência, que igualou tecnicamente a Rádio Globo de São Paulo às demais grandes emissoras do país, no ano seguinte permitiu que realizássemos uma excelente cobertura jornalística da Copa do Mundo, movimentando mais de 60 profissionais na Argentina e no Brasil, com as transmissões dos jogos marcando presença via Embratel nas principais cidades e em todas as capitais do país, exceto no Rio de Janeiro, onde também tinha uma rádio Globo. No IBOPE, deu a ex-Nacional, a nova Globo paulista.
• Coisa de gente pequena, mesquinha. A Rádio Guairacá de Curitiba (que depois mudou de nome para Rádio Iguaçu e foi cassada pelo golpe militar de 1964), a partir da saída do superintendente Murilo Lupion de Quadros (sobrinho do então governador Moisés Lupion, patrono da rádio), passou a viver dias tumultuados com a redução do quadro de funcionários, falta de salários em dia, transmissores sem válvulas, queda da qualidade da programação e outras situações de instabilidade.
A sucessão de vários superintendentes, todos paraquedistas em matéria de radiodifusão, levou a segunda emissora de Curitiba a um estado de insolvência. Um dos dirigentes que passou pela ZYM-5 foi Tércio Rolim de Moura. Acho que era parente ou correligionário político de Lupion. Entrou com fama de durão querendo consertar as finanças da emissora de um dia para outro.
O “locutor que vos fala”, escalado para um trabalho fora de Curitiba, antes de viajar passou pelo escritório da Guairacá, que era localizado num prédio na esquina das ruas Barão do Rio Branco com 15 de Novembro (os estúdios e auditório ficavam localizados na Barão do Rio Branco), a fim de receber o bilhete da passagem e a verba referente as diárias do período em que estaria a serviço na capital de São Paulo.
Quando fui pegar o dinheiro reservado para as diárias, achei pouca a importância estipulada para cada dia de trabalho externo e então fui falar com o referido Sr. Tércio. Ele me disse que os tempos eram bicudos e que eu, durante a viagem, deveria fazer uma só refeição por dia, suprimindo o almoço ou o jantar.
Recusei-me a viajar com essa absurda condição e, na hora, abri caminho para me desligar daquela rádio, o que, realmente, aconteceu um mês depois desse fato. Tércio Rolim de Moura durou pouco tempo como superintendente da Guairacá, rádio que mais tarde foi transferida, inicialmente para o radiodifusor Samuel Silveira (que já tinha a Rádio Cruzeiro do Sul).
Depois, ela passou para o grupo de Paulo Pimentel e virou Iguaçu (nome fantasia). Teve então uma boa fase nas mãos do companheiro Euclides Cardoso, qualificado dirigente de rádio de Curitiba. Mas o movimento golpista de 1964 declarou perempta a concessão outorgada para o seu funcionamento ainda com nome de Rádio Guairacá. Silenciou sua transmissão no dia 27 de maio de 1977, precisamente às 10h55.
• Sempre antenado com as coisas novas do rádio, quando fui gravar a vinheta-prefixo da Independência em São Paulo, no famoso estúdio da RGE, de José Scatena, ao solicitar que o locutor anunciasse “ZYJ-267, Rádio Independência de Curitiba, 1.360 kilohertz”, fui chamado de “inventor da pátria” por Humberto Marçal, na época dono de uma das mais bonitas vozes do Brasil, que se negava a gravar o prefixo com a palavra kilohertz.
Só com muita insistência minha é que Marçal gravou como eu pedira. Uma nova regulamentação do governo determinava que a denominação kilociclos fosse substituída por kilohertz, homenagem a Heinrich Hertz (1857-1894). O grande físico alemão provou a teoria de “que a luz era uma forma de radiação eletromagnética”, ou seja, a existência de ondas eletromagnéticas que, em sua honra, viriam a ser chamadas de ondas hertzianas.
A propósito de prefixo, nunca aceitei o desaparecimento do PR, substituído por Z na identificação das emissoras de rádio. Como era sonoro ouvir: “PRE-8, Rádio Nacional do Rio de Janeiro.” Ou “PRB-9, Rádio Record de São Paulo”. Ou ainda, “PRB-2, Rádio Clube Paranaense”. Ou então, “PRC-4, Rádio Clube de Blumenau”.
Com base em convenção internacional, sei lá como, desapareceram os PRs e depois disso o que era bonito ficou feio, ainda mais porque as rádios então deixaram de ser reconhecidas pelos seus prefixos. Algumas emissoras – como é o caso da Clube Paranaense, PRB-2 – continuam sendo reconhecidas por seus antigos prefixos.
Hoje, proliferam os nomes de fantasia que substituem os nomes originais (tem algumas rádios que já mudaram várias vezes de nome) e o prefixo é pouco divulgado pelas estações que, antes, eram obrigadas pelo Minicom a anunciar seus prefixos de meia em meia hora, providência que orientava as aeronaves que buscavam aterrissar com segurança.
• Numa das rádios em que exerci o cargo de diretor, o superintendente me ordenou que demitisse um funcionário que ocupava e desempenhava bem o terceiro cargo em importância na hierarquia funcional da empresa, o qual tinha seu trabalho bastante elogiado por todos os seus colegas.
Como achei estúpida a desculpa para determinar a referida demissão (”eu não gosto da cara desse sujeito…”), não providenciei o afastamento do funcionário “malquisto” pelo chefão. Mais tarde, quem se demitiu fui eu, isso em razão daquele meu enfrentamento e da falta de confiança que passou a existir no relacionamento com o tal superintendente.
Passam os anos e eu me pergunto: Errei ou acertei em não atender o manda-chuva daquela empresa? Aquele funcionário (de cara feia) que eu não aceitei demitir ficou por alguns anos na frente do departamento de marketing da emissora.
Vida de diretor de rádio no Brasil tem dessas coisas: a rapadura é doce, mas não é mole.
FINAL, DOIS PONTOS:1. É longa a estrada da vida e2. O que não tem solução deixou de ser problema… Assim diz o poeta popular.

PS 1 - Está no ar o 25º Congresso de Radiodifusão. De 19 a 21 deste mês de maio, no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília, com previsão de comparecimento de grande número de radiodifusores, especialistas, pesquisadores e parlamentares. Inclusive o autor desta coluna.
O evento, intitulado Radiodifusão: Compromisso com o Brasil, promoção da ABERT, Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, vai discutir os principais assuntos do momento para o setor e para o país.
A Abert, que representa 2,5 mil emissoras de rádio e 320 de TV, prevê a participação de 1,5 mil radiodifusores. No programa, estão previstas sete conferências, oito painéis temáticos e quatro legislativos.
Ao mesmo tempo, será promovida uma Feira Internacional de Equipamentos e Serviços, com mais de 50 empresas nacionais e multinacionais, e o 28º Seminário Técnico Nacional da Radiodifusão, dirigido a profissionais da área, que discutirão temas como mobilidade para televisão, internacionalização do modelo digital de TV brasileiro, padrões para rádio digital e gerenciamento de conteúdo para TV.
Sobre rádio digital, técnicos dos padrões já testados no Brasil vão defender seus sistemas.
PS 2 - Quinta-feira (14/05) acompanhei pela net programa comemorativo dos 66 anos da Rádio Guarujá de Florianópolis, conduzido por Polidoro Júnior. Presença, ao vivo e pelo telefone, de jornalistas, radialistas e técnicos que ajudaram a construir a grandeza dessa importante emissora.
Sucessora de um serviço de alto-falantes, a Guarujá surgiu em 1943 e nos anos 50/60 conseguiu pontificar como uma das principais rádios do Sul do país.
Essa tradicional rádio, três anos depois de sua inauguração, foi transferida para o grupo de Aderbal Ramos da Silva, político catarinense que governou o Estado no período de 1947 a 1951 e até hoje está sob o controle do mesmo comando empresarial, agora denominado Hoepcke Rádios, dirigido por dona Sílvia Hoepcke da Silva. Seu filho, Fábio Comelli, é o diretor executivo.
A Guarujá AM, com sua atual programação direcionada para o esporte e radiojornalismo, é parceira da Rede Eldorado. Já a emissora de FM, retransmite a programação Antena 1.
IN MEMORIAM
O rádio paranaense está de luto. Morreu Jorge Nassar, criador de A Voz do Povo, programa de grande audiência nos anos 50/60. Radiodifusor fundador da Rádio Independência atuou por três legislaturas como deputado estadual (1958, 1962 e 1966). Em 1969, teve seus direitos políticos cassados pelo golpe militar de 64.Em 1959, criou uma fundação com o nome A Voz do Povo, mais tarde denominada Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional - FEPE - que atende crianças, adolescentes e jovens com deficiência. Um legado exemplar.
Nassar foi um grande apaixonado por rádio.

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