sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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Oróis por nóis

Paulo Tadeu Jornalista


 “A Tragédia de Orós – Documento Histórico”, 32º livro do professor Pedro Sisnando Leite, será lançado na próxima segunda-feira (14/12), às 15h30mim, no Instituto do Ceará (Histórico Geográfico e Antropológico), com saudação do presidente José Augusto Bezerra. A obra, patrocinada pelo Banco do Nordeste - BNB, é um resgate histórico do drama das comunidades ribeirinhas do Jaguaribe, quando na noite de 25 para 26 de março de 1960 a barragem do Açude Orós, ainda em construção, transbordou, levando o desespero e devastação a 14 municípios do Médio e Baixo Jaguaribe: Iguatu, Orós, Icó, Jaguaribe, Jaguaribara, Limoeiro do Norte, Alto Santo, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Itaiçaba, Jaguaruana e Aracati, atingindo cerca de 170 mil pessoas. Os Radioamadores (PPA-1) divulgavam o fato. A Igreja Católica angariava donativos. Bem longe, na minha Palmácia, eu ainda imberbe, ouvia tudo pela Rádio Dragão do Mar. E tinha o lado folclórico da tragédia: dizia-se que pessoas interesseiras, passando-se por “flagelados” recebiam doação dos “Oróis”, e alegres repetiam : “Oróis por nóis”... Ainda hoje, em Palmácia, a palavra brechó é sinônimo de “roupa dos Oróis”.
Gerações de” cabeças-chatas” quiseram ver barradas as águas do Rio Jaguaribe. Na década de 50, em defesa da construção do Açude Orós, Demócrito Rocha já comparava o Rio Jaguaribe a “uma artéria aberta, por onde escorre o sangue do Ceará”... E indagava: “Quem é o presidente da República? Depressa uma pinça hemostática em Orós!...”
O presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira ouviu os apelos, retomou a construção do açude que havia sido interrompida em 1922, e o inaugurou em 11 de janeiro de 1961. A tragédia fora prevista quando as chuvas aumentaram em março. Em helicóptero o Exército distribui panfletos às populações para deixarem área. Muitos reagiram amontoando-se em locais altos. Aos 17 minutos do dia 26 de março, um terrível estrondo ecoou: era a fúria da enchente ultrapassando o nível da barragem em construção. Para evitar o arrombamento total, e uma catástrofe maior, foi aberta uma vala de escoamento. Três dias depois o Juscelino sobrevoou a área ao lado do governador Parsifal Barroso e do superintendente da SUDENE, Celso Furtado. Juscelino solicitou ao presidente do BNB, Raul Barbosa, um conciso relatório confidencial sobre as consequências do flagelo.
A tarefa foi desincumbida por jovens técnicos do BNB coordenados por Pedro Sisnando Leite, então chefe da Divisão de Estudos Agrícolas do Nordeste ETENE/BNB . Este guardou farto material em sua Biblioteca e, 50 anos depois, escreve o livro de 262 páginas e iconografia. Uma relíquia histórica!(Aliás, em recente artigo, o engenheiro Cássio Borges lembrou que o Orós, em duas oportunidades, já socorreu Fortaleza com água: 1993 e 1998).
 jornal o Estado de 11/12/09