terça-feira, 30 de junho de 2009

RÁDIO DAS NAÇÕES UNIDAS


A ONU (Organização das Nações Unidas ) mantém um rádio chamada Rádio das Nações Unidas que trabalha com temas referente aos interesses das nações e sobre diversos assuntos referentes aos países e nações do Globo. É um site interessante e que prova o poder do amigo rádio.


DE QUE LADO ESTÁ NOSSA MÍDIA???


Luiz Gonzaga Motta

Contradição social e mídiapolítica


A comunicação social é um campo fértil para observar os enfrentamentos políticos que se processam incessantemente entre os diversos atores que compõem a sociedade brasileira. O caráter público da comunicação social mostra quem está representado, quem está excluído, qual a correlação de forças, como certos grupos consolidam seu poder e outros são sistematicamente excluídos da arena política pública.


A compreensão do jogo político que se processa continuamente na mídia não é fácil, entretanto. Há uma pluralidade de vozes e uma infinidade de interesses representados. Os atores variam desde os proprietários dos meios, os profissionais (jornalistas, produtores culturais, etc.), o governo nos seus diversos níveis, os partidos políticos e seus representantes, os anunciantes e os grupos hegemônicos (banqueiros, industriais, organizações patronais, etc.), cada um deles se relacionando com os outros através de diferentes graus de tensões.


A mídia é, por excelência, um lugar de mediação política e social, um espaço de encontros e desencontros, de alianças e composições. Pode revelar-se palco de negociações contraditórias entre forças antagônicas provisoriamente aliadas ou de embate de forças opostas em enfretamento aberto. Basta ler os jornais e revistas ou escutar ao noticiário das emissoras para observar essa contraditória convivência.


Essa diversidade não significa pluralidade, tampouco. Os vínculos comerciais e político-institucionais da mídia refletem o centralismo, a concentração da sociedade brasileira e a exclusão sistemática dos segmentos sociais desfavorecidos. A mídia é um produtor histórico de difusão mercantil dos produtos simbólicos cujos processos de produção e consumo estão marcados pela divisão estrutural da sociedade.


Apesar do desequilíbrio, a mídia não pode representar exclusivamente os interesses dominantes. Ela precisa legitimar-se como lugar de mediação e de circulação pública de conteúdos e precisa fazer constantemente concessões de ordem política. É justamente essa contradição que torna a mídia um campo de observação rica e fértil.


Nosso país segue a tendência mundial de concentração cruzada e de fusão da mídia: os proprietários de jornal também possuem emissoras de rádio, televisão e sites da rede. Em julho de 2002 a Net-Sky detinha 61% da televisão paga no país. E assim por diante.


Além disso, 45% dos proprietários de rádio são políticos, o que revela seu poder de barganha. Por exemplo, para conseguir cinco anos de mandato, o ex-presidente José Sarney concedeu 632 emissoras de rádio FM e 314 AM a políticos (70% da freqüência foi ocupada). Das 420 emissoras de TV existentes no país em 2002, 94 pertenciam a políticos. Dos vinte e sete governadores eleitos, 12 possuíam concessão de televisão.


A identificação dos dez maiores anunciantes de jornais em 2002 ajuda a revelar a proximidade entre a mídia e os negócios. O primeiro é Casa e Vídeo (92 milhões); os seguintes, pela ordem: Inpar (91 milhões); General Motors (86 milhões); Pão de Açúcar (82 milhões); Fiat (82 milhões); Gafisa (77 milhões); Kalunga (66 milhões); Ponto Frio (60 milhões); }Ford (53 milhões); Casa Bahia (51 milhões).


Apesar dos expressivos números, estabelecer uma correspondência imediata e direta entre mídia e poder político simplifica a questão, esconde as contradições, mascara as tensões e os conflitos. Há na mídia um constante enfrentamento entre os diversos segmentos da sociedade. Ainda que errática ou fugaz, é na mídia que os segmentos excluídos se expressam hoje as suas posições contra-hegemônicas.


Em grande medida os meios de comunicação expressam a cultura hegemônica de mercado, impregnam os imaginários e o conjunto da sociedade do modo de vida consumerista. Criam o conformismo, reduzem frequentemente a capacidade crítica da sociedade.


Mas, a mídia não é monolítica, precisa ceder para legitimar-se como um espaço público. Dependendo das circunstâncias, ela revela mais ou menos acentuadamente as posições antagônicas, os questionamentos sociais, os modos alternativos. As forças contra-hegemônicas percebem as brechas, fazem articulações, organizam-se para a mídia, conseguem ocupar espaços e expressar-se dependendo das conjunturas.


Recentemente as “margaridas”, mulheres dos Sem-Terra, fizeram uma marcha marqueteira em Brasília. Apesar de mulheres e excluídas, conseguiram ocupar as primeiras páginas, espaços de todos os telejornais e expressar suas reivindicações. A mídia não é, nem pode ser, um aliado automático do poder ou do mercado. Ela é ambivalente, não é nem poderia ser insensível ao jogo político, precisa fazer alianças e concessões.


Contraditoriamente, a mídia precisa abrir espaços e legitimar-se como lugar de fala universal. Precisa manter-se publicamente como guardiã das liberdades. Reivindica para si uma autonomia frente aos conflitos e não poucas vezes coloca-se na posição anti-hegemônica.


Há inúmeros exemplos em nossa história recente. Na medida em que a democracia brasileira avança, a mídia se vê obrigada a fazer maiores concessões. Historicamente, não poderia ser de outra forma. Até porque é na mídia que os grupos antagônicos se enfrentam hoje.


A midiapolítica ou a telepolítica é hoje um dado de realidade e todos os segmentos sociais já perceberam isso. É na mídia que se realiza o jogo político do poder. Não há um só sindicato, partido, organização não-governamental ou movimento social que não tenha percebido isso e se organizado para a mídia. Todos eles têm assessorias de comunicação profissionalizada, sites bem produzidos, estratégias de marketing, etc., com resultados surpreendentes.
Mal ou bem, todos lutam pela inclusão midiática. Existir politicamente é ganhar visibilidade na mídia. Ignorar isso é desconhecer a moderna disputa política. Todos os segmentos da sociedade se organizaram para “publicizar” suas posições e isso é tão ou mais importante hoje quanto ter representação nos parlamentos.


É na mídia que se define a atualidade e a agenda pública e as prioridades políticas. Que se conquista visibilidade, se legitimam os papéis e as autoridades “técnicas” e políticas, que se fiscaliza o poder e se exerce a crítica, que se canalizam as demandas e se realizam as campanhas, que se estabelecem os gostos e as preferências, que se desenvolve a vida.
Mal ou bem, todas as forças sociais se organizam para sensibilizar a mídia. O esforço recente da ANDI, que criou a figura do “jornalista amigo das crianças” e reverteu a pauta da mídia sobre os meninos de rua é exemplar. O trabalho performático da organização ambientalista Greenpeace é outro exemplo de abertura de espaço nas primeiras páginas e tempo no horário nobre. Sem contar o merchandizing social que várias entidades têm conseguido emplacar nas novelas das oito. Segundo a TV Globo, foram 132 mil inserções comerciais na sua programação em 2002 correspondendo a um valor comercial total de R$ 147 milhões.


Isso quer dizer que a mídia brasileira é democrática? Não, ela continua jogando no time vencedor. Mas, há demonstrações de que é possível, mesmo para grupos contra-hegemônicos, abrir e conquistar espaços nos meios de comunicação, apesar da luta ser dura. Com estratégias inteligentes, bem definidas e eficácia, é possível criar e ocupar espaços. A mídia é um campo de conflito de interesses e de enfrentamentos, não é um espaço monolítico.
Há uma nova geografia política em curso, desterritorializando os espaços políticos tradicionais como os partidos e o parlamento. A referencialidade política é cada vez mais midiática.


*Luiz Gonzaga Motta é jornalista, professor da UnB e coordenador do NEMP (Núcleo de Estudos de Mídia e Política).


www.unb.br/nemp