quinta-feira, 23 de abril de 2009

LEIA E DÊ SUA OPINIÃO...


Quanto vale um "alô" no rádio cearense?

Por Francisco Djacyr Silva de Souza em 21/4/2009


O meio radiofônico é cheio de nuances e histórias que têm muito a ver com suas características, suas idéias e seus problemas. Cada história do meio é caracterizada pela própria história de seus personagens e do cotidiano de nossas rádios. Algumas palavras como "mala", "jabá", "boi" já fazem parte do vocabulário de alguns programas e já estão incorporadas no cotidiano dos radialistas que conversam sobre tais fatos sem cerimônia ou medo de ferir ou desrespeitar alguém. A palavra "mala" é geralmente um termo pejorativo dado pelos radialistas a alguns ouvintes que emitem suas opiniões e geralmente desagradam os interesses destes profissionais ou da emissora. Claro que temos ouvintes que exageram em suas participações. No entanto, uma boa conversa resolveria o problema sem nenhum tipo de constrangimento. A palavra "jabá" é dada ao agrado financeiro dado por algum cantor para que o locutor promova sua música. Já o termo "boi" é dado ao tipo de gratificação que o locutor recebe, geralmente para bajular algum político ou empresário bem-sucedido.

Muitos destes termos já fazem parte do cotidiano das rádios e são incorporados às conversas dos radialistas dentro e fora das rádios e muitas vezes até no decorrer dos programas. Mas o que vai se questionar é se é correto utilizar este tipo de expediente para garantir dinheiro e salário. Achamos que o programa televisivo Topa tudo por dinheiro se encaixa bem neste procedimento. O grande problema é que a falta de uma política salarial ou de valorização do trabalhador do meio rádio tem levado alguns profissionais a se utilizarem de artifícios, legais ou não, para garantir ganhos financeiros e levar a vida supostamente profissional.

Respeito mútuo e consideração

Outro artifício muito comum no meio rádio é o "alô" mandado para pessoas de prestígio na sociedade que às vezes têm valores gordos e promovem um espetáculo de bajulação de radialistas a este ou aquele senhor de posição. O "alõ" no rádio tem sido uma moeda de grande valor conquistada sem o menor resquício de caráter ou compromisso profissional ético. Por que não se mandam "alôs" ao povão, estes cidadãos que têm maior consideração pelos profissionais de rádio e às vezes são esquecidos e completamente desvalorizados nas programações? O rádio não precisa deste artifício anti-profissional para crescer. Bastaria programas de qualidade e conquista de outros públicos para seu crescimento e desenvolvimento. Achamos que esta prática enfeia o rádio e desvaloriza o profissional, que fica sem argumentos para questionar qualquer tipo de anomalia na sociedade passando sempre a idéia de que o mundo do rádio é povoado por profissionais interesseiros e comprometidos com os que têm dinheiro e poder.

É importante que a ética profissional seja colocada em prática por alguns profissionais que devem usar seus microfones para atender os interesses populares e satisfazerem a necessidade dos ouvintes que querem notícias verdadeiras, informações isentas e uma ação profissional baseada sempre na verdade. Não podemos aceitar que o papel do profissional seja pautado numa lógica meramente financeira e que todos os cidadãos sejam respeitados pelos que fazem o rádio de maneira igualitária sem preferências essencialmente fundamentadas no ritmo do capital.

O rádio deve ser feito de forma democrática considerando todos os que ouvem o rádio de maneira igualitária. Não é a posição social que vai determinar o trabalho do radialista, e sim, seu compromisso profissional, que está posto no código de ética da categoria. É preciso que procure se valorizar os que fazem rádio para que seu trabalho não seja pautado pelo entreguismo e pela maneira parcial com que alguns emitem opiniões de acordo com os interesses de quem os paga. O alô no rádio pode, sim, ser mantido, mas antes de tudo deve ser dado a todos igualitariamente, e não ser determinado pela posição social e econômica dos agraciados. A comunicação com o ouvinte deve ser fundamentada por um processo pleno de respeito mútuo e consideração com todos. É triste saber que alguns, pelo fato de terem dinheiro e posição política, conquistam espaço no rádio não pelos méritos, e sim, pelo poder. Rádio é, sobretudo, democracia, verdade e ética para o bem da comunicação e da sociedade.

publicado no site www.observatoriodaimprensa.com.br