sexta-feira, 17 de julho de 2009

PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

Caráter reticente e vontade política

Por Jacob (J.) Lumier em 14/7/2009

Em recente entrevista divulgada neste Observatório da Imprensa (ver aqui), a deputada Luiza Erundina deixou claro que um obstáculo à democratização dos meios de comunicação é a falta de avanço, o silêncio lançado contra a PEC disciplinadora, que proíbe expressamente parlamentares de serem donos de empresas de radiodifusão.

Não que a reticência sobre a proibição assim projetada indique algum acordo político que empacou, ou esteja a carecer de impulso renovado. O nível do obstáculo em pauta vai mais além do cálculo para equilibrar o que um ganha e o outro deixa de abrir mão.

A reticência de que não se fala é mais do que figura de estilo, nem se confunde às metáforas. É exercida como alguma coisa prejudicial à tendência para a realização, a qual, em modo ordinário, costuma-se impropriamente identificar à chamada vontade política, historicamente constituída esta com o mandonismo local.

Com efeito, o aspecto prejudicial inviabilizando ou ajuizando previamente contra o esforço para a realização foi ressentido. Tanto é assim que veio a ser bem notado o déficit de consciência política de que as concessões de rádio e TV constituem patrimônio da sociedade. Confirma-se, então, que a reticência sobre a PEC disciplinadora acima mencionada carece de alcance tático, para dar lugar à escassez de compromisso cultural democrático.

A figura do "eleitor faltoso"

Trata-se da reticência como atitude. Deixa-se de dizer as coisas que podiam ser ditas, não por falta de representação, criar suspense no discurso ou para disfarçar uma intenção. Aliás, não se trata de uma atitude limitada às relações em torno da PEC disciplinadora. Na medida em que denota escassez de compromisso cultural democrático, o caráter reticente se faz acompanhar de um elemento normativo característico da tradição elitista.

Deixar de dizer as coisas que podiam ser ditas é uma atitude e uma conduta regular típica da maneira instituída de fazer política. Um comportamento, modo de ser e agir observado em muitos aspectos da nossa democracia, notadamente na questão do regime eleitoral com voto obrigatório.

Desta forma, há, por exemplo, reticência sobre os projetos em favor do voto facultativo para todos quando se fala em maneira astuta de que já existe a não-obrigatoriedade de votar, seja porque as multas são baixas e muitas vezes deixam de ser cobradas, ou em razão de que nem idosos nem "pós-adolescentes" incorrem na figura esdrúxula do "eleitor faltoso", autêntico entulho autoritário.

Escassez de compromisso democrático

O exemplo do silenciar sobre os projetos em favor do voto facultativo não é despropositado, nem aparece aqui sem razão, mas tem alcance crítico decisivo sobre a tradição elitista e valor conjetural explicativo, em face desse tipo quase oblíquo de personalidade que surge em perspectiva no caráter reticente.

É que o voto do eleitor em regime (cartorial) obrigatório introduz por contradição um componente de abertura na representação de interesses, uma mudança latente na estrutura elitária, sobre a qual a elite política é necessariamente (por definição) reticente.

Daí, para encerrar, a escassez de compromisso cultural democrático como um traço da vontade política em nossa democracia.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE www.observatoriodaimprensa.com.br

UMA LEITURA INTERESSANTE

Tendência da Comunicação

Ao contrário do mercado americano, que geralmente faz previsões para os setores econômicos estimando a intensidade dos investimentos futuros, no Brasil parece que os prognósticos buscam o impacto apenas. Pelo menos tem sido assim para o mercado da comunicação.

A história conta que, com o aparecimento da televisão, lá na década de 50, muitos profetizaram a morte iminente do rádio. Depois, com o aparecimento da faixa FM, muitos determinaram o fim da AM e de todas as demais faixas. E o rádio continua firme, forte, sólido como nunca.

O fim do jornal foi decretado também com o sucesso da segmentação editorial das revistas e mais recentemente com avanço dos meios interativos. E o que se constata em todo o mundo é a revitalização do jornal, impulsionado, tanto pelos novos formatos como pelas novas formas de distribuição.

Depois foi a vez do ataque à TV diante do lançamento do videocassete. E o DVD foi à razão do anúncio fúnebre do cinema.

Com a chegada da Internet então, as previsões eram ainda mais cruéis: todos os demais canais de comunicação sucumbiriam diante da conectividade e de todos os demais poderes exercidos pela web.

Ledo engano!

Os autores das impactantes profecias, em muitos casos, deixaram de considerar, por exemplo, a força do hábito do espectador, quer seja ele leitor, ouvinte ou telespectador, que, quando associada ao poder de superação da mídia, ridiculariza, a meu ver, qualquer prognóstico negativo.

O fato é que, independentemente das previsões, há mesmo lugar para todos. Cada canal de comunicação dirige-se a um segmento específico da população, e a própria superposição de sons, imagens e movimento é sempre valorizada pelos anunciantes diante das características de cada meio no poder de atendimento das necessidades de comunicação de suas marcas.

E o mundo de hoje, cada vez mais competitivo, garante mesmo espaço e oportunidades a todos. Até porque, como diz o velho ditado: ninguém morre na véspera!

Angelo Franzão Neto, presidente do Grupo de Mídia São Paulo