quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PARA LER E COMENTAR

O novo rádio

22/09/09

No livro O Presidente Negro, de 1926, Monteiro Lobato se deixava levar pela grande novidade da época, o rádio, e dizia que as “ondas de radiação” seriam usadas para enviar mensagens, para trabalhar de casa e até mesmo para computar os votos de uma eleição. A primeira transmissão de rádio no Brasil havia sido feita quatro anos antes, no dia 7 de setembro de 1922.

Nos 87 anos seguintes, o título de tecnologia promissora foi para outros meios, como a TV e a internet. Mas há algo de diferente acontecendo com o rádio. Sem muito alarde, ele se tornou a primeira mídia multiplataforma de fato, justamente por causa das novas tecnologias.

O rádio está em qualquer lugar. Hoje ouvimos não apenas em casa ou no carro , mas no celular, na televisão e, principalmente, pela internet, em qualquer aparelho em que a conexão esteja disponível. Podemos sintonizar qualquer emissora do mundo. E dá até para fazer o download dos programas de rádio favoritos para ouvir no tocador de MP3, sem depender da transmissão ao vivo.

Isso tudo sem falar que qualquer um pode criar sua estação na internet para quem quiser escutar e que a rede oferece um território muito mais amplo de transmissão do que o espectro de radiofrequência regulado pela Anatel. “A rádio tradicional é pontual: transmitiu, acabou. Na internet, o conteúdo perpetua-se”, diz Ricardo Tacioli, da Cultura Brasil, versão online da antiga Cultura AM, uma das muitas rádios tradicionais que estão aprendendo a se reinventar com a internet.

Uma saída inteligente, se compararmos com setores como a indústria fonográfica, que preferiu brigar contra a internet a aprender a sobreviver no século 21.(Filipe Serrado e Tatiana de Mello Dias, do O Estado de S. Paulo).


retirado do site www.carosouvintes.org.br

UMA LEITURA INTERESSANTE...

Sem-Fio e Telecom - Criação

O brasileiro que inventou o rádio

25/07/2006 17:15

Por: Fábio Fernandes

Livro conta a história do padre brasileiro cientista genial que acreditava na comunicação sem fio.

Em que momento cai um mito? Quando, exatamente, deixamos de acreditar no que nos dizem os livros oficiais de história e mergulhamos a fundo nos fatos históricos, nos acontecimentos? Quando, para ficarmos apenas num exemplo, Tiradentes deixa de ser simplesmente “o mártir da independência” que lemos nos livros escolares para ser o conspirador revolucionário que foi envolvido numa trama complexa (também semi-ignorada pelos livros escolares, que chamam simplesmente a conspiração de “Inconfidência Mineira” e estamos conversados) e condenado à morte e à infâmia?

Nos últimos anos, uma série de ótimos livros têm colaborado para erradicar de uma vez por todas a idéia de que o brasileiro não tem memória. Ao que parece, essa idéia nunca passou de um mito, pois sempre há quem nos lembre de que somos muito mais do que o infame senso comum nos tenta fazer acreditar (quanto à questão de quem ajuda a disseminar esse senso comum, ou seja, de quem é o interesse que não tenhamos memória, isso será assunto para outro dia).

Que os leitores mais jovens do Webinsider não se espantem com esta diatribe inicial. Ela é conseqüência direta da educação de primeiro grau recebida pela geração que hoje está na casa dos quarenta (na qual acabei de entrar) e que pouco fez além de entupir as cabecinhas (que por isso mesmo ficaram um tanto cabeçudas) com dados e cognomes, bem à moda da historiografia positivista, cuja única preocupação era elaborar listas de fatos, sem lhes dar a devida análise e contextualização. E quantos nomes, por questões políticas, entre outras, não ficaram de fora dessas listas?

Um dos nomes esquecidos por décadas foi o do padre gaúcho Roberto Landell de Moura. E um livro que está ajudando a resgatar o nome desse inventor é Padre Landell de Moura – Um Herói sem Glória (Record). Escrito pelo jornalista Hamilton Almeida, Padre Landell de Moura… conta a história de um padre que não se contentou com o púlpito e a pregação religiosa. Seu rebanho era outro: a ciência.

Landell era antes de tudo um cientista. Na adolescência, como a maioria dos jovens de sua geração, era curioso pelos fenômenos não só biológicos como também elétricos – afinal, a eletricidade ainda era novidade no Brasil do final do século dezenove (Landell nascera em 1861). O tamanho de sua curiosidade e a amplitude das áreas do conhecimento que gostava de investigar podem ser aferidos por um simples fragmento de manuscrito: “…fiz algumas composições químicas, tais como a para extrair a cárie dos dentes. Construí um telefone. Fiz a autópsia de um gato, e estudei a influência que podia ter sobre ele a eletricidade atmosférica.” E arremata, só para humilhar: “Tinha, então, 16 anos.”

Um herói sem glória – até agora

Façam os cálculos. Landell nasceu em 1861. Seu telefone fora inventado, portanto, em 1877. A primeira experiência de Graham Bell com seu invento data de 1876, e o Imperador D. Pedro II (o primeiro brasileiro a possuir oficialmente um aparelho telefônico) só teria o seu telefone no ano seguinte. Praticamente ao mesmo tempo, portanto, que o jovem gaúcho de Porto Alegre, que, escusado dizer, não pertencia à nobreza nem tinha qualquer contato com Bell e muito menos com o imperador.

Perdoe-me a igreja católica, mas padre Landell era o diabo. Pintava e bordava – ou, seria melhor dizer, soldava e montava? Fosse como fosse, Landell acreditava piamente na comunicação a distância sem a necessidade de fios, e lutou durante anos para construir aparelhos que pudessem transmitir a voz humana e aperfeiçoar o sistema já existente de telefonia.

Não estava sozinho. Outros cientistas, como Nikola Tesla e Guglielmo Marconi, pensavam o mesmo. Tesla é o criador da corrente alternada, e trabalhou com Thomas Edison em uma série de projetos que envolviam emissão de ondas sem fio. Marconi não ficou atrás: obteve o apoio dos governos italiano e norte-americano (além de financistas britânicos) para a construção de antenas e transmissores.

Landell tinha uma coisa em comum com Tesla e Marconi, além da perserverança: assim como eles, também foi para os Estados Unidos, certo de que a famosa Terra das Oportunidades seria o lugar ideal para mostrar seus inventos. Conseguiu patentear uma série deles, mas não conseguiu expô-los.

Em 1900, no alto de Santana

Seria pior no Brasil. Embora, em 1900, uma experiência bem-sucedida de transmissão de som tivesse acontecido no alto de Santana, na cidade de São Paulo (noticiada inclusive pelo Jornal do Commercio), os aparelhos de padre Landell não foram levados a sério em seu próprio país. Por isso passou o ano de 1904 nos EUA para patentear seus principais inventos: o “Wireless Telegraph” (telégrafo sem fio), o “Wireless Telephone” (telefone sem fio), e o “Wave Transmitter” (transmissor de ondas). As patentes foram obtidas, mas a duração delas era limitada (17 anos), e ninguém manifestou interesse em comercializá-las. Cientistas como Marconi não acreditavam na viabilidade dos sistemas utilizados por Landell. Um deles? A transmissão por ondas de luz.

Hoje considerado (mais um clichê positivista) “um homem à frente de seu tempo”, Landell não foi tratado como deveria. Embora não tivesse conseguido apoio nem dos governos nem da própria igreja, padre Landell continuou vivendo dentro dos cânones católicos. Chegou a se tornar monsenhor um ano antes de morrer, em 1928.

Patentes venceram e foram usadas

E ainda tomou conhecimento de que suas invenções, findo o prazo de duração das patentes, foram apropriadas pelos americanos. Em entrevista a um jornal brasileiro, declarou que não era menos feliz por isso. “Eu vi sempre nas minhas descobertas uma dádiva de Deus”, acrescentando que sempre trabalhara pelo bem da humanidade. Padre Landell não queria dinheiro: queria apenas o merecido reconhecimento por ter feito parte da história das telecomunicações.

O livro de Hamilton Almeida contém relatos detalhados e excertos dos manuscritos de Landell. É uma excelente fonte de informação para cientistas, coleguinhas da imprensa e todo e qualquer brasileiro que (sem nacionalismos exacerbados, por favor) deseje conhecer algo mais a respeito de um homem que deu a vida pela ciência num país que está pouco se lixando para seus gênios.

Sobre o Autor

Fábio Fernandes (zeroabsoluto@gmail.com) é jornalista, escritor e tradutor.

Url original: http://webinsider.uol.com.br/index.php/2006/07/25/o-brasileiro-que-inventou-o-radio/
Publicada em: 25/07/2006 17:15
Impresso em: 22/09/2009
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