sábado, 31 de outubro de 2009

bons comentários


Brilhantes os comentários do Professor e radialista Olavo Colares no Programa as Frias do Sérgio. São idéias coerentes sem bairrismo ou torcida. Analisa com coerência e clareza. Muito boa sua participação no Programa. Lembro - me do tempo que ele fazia um programa muito bom na rádio sobre o que acontecia no mundo. São programas que não podem sair do rádio.

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O RÁDIO ENCANTA TODAS AS CAMADAS SOCIAIS
Por Antônio Paiva Rodrigues ( * ) em 05/10/2009
Independente do credo, raça, cultura, o rádio é um invento que encanta a todos. Transmitir ou emitir sons a qualquer distância pelo espaço é espetacular, é algo fantástico. Podemos enunciar que já estamos acostumados, e o nosso cotidiano já assimilou essas belas nuanças. Quando o rádio transmitiu a voz humana pela primeira vez o mundo se transformou e com ele a humanidade mudou.
O Brasil imantou este privilégio, isto é, entrou na era do rádio há mais de 80 anos, precisamente em sete de setembro de 1922. Muito se fala e se comenta sobre a primeira transmissão. Alguns aspectos importantes eram destacados. Aconteceu com um transmissor de 500 watts, da Westinghouse, no alto do Corcovado no Estado do Rio de Janeiro, para 80 receptores. Pode-se afirmar que o primeiro programa de rádio foi o discurso do presidente da república na época, Epitácio Pessoa. É bom que se frise que a instalação de fato aconteceu aos 20 de Abril de 1923 com Roquete Pinto e Henry Morize com a “Rádio Sociedade do Rio de Janeiro”.
Sua programação era para a elite, não para a massa: com ópera, recitais de poesia, concertos, palestras culturais. O discurso do presidente Epitácio Pessoa aconteceu na praia vermelha, ele falou para centenas de pessoas que o ouviram de longe, com o auxílio de uma espécie de telefone com alto-falante. Naquela época tudo era mais difícil, visto que os receptores eram caros e importados, toda programação tinha uma finalidade cultural, educativa e altruísta, eram cobradas mensalidades para quem tinha os famosos receptores, havia também as doações, pois a carência era enorme e a publicidade ainda não existia. Com esse primeiro estilo de transmissão muitos ouvintes voltaram para casa achando que tudo não passava de um blefe e diziam: voz não viaja ponto final. Vejam a perplexidade que o rádio causou aos primeiros ouvintes. Eram primazia e exclusividade do governo as estações de rádio.
A programação era toda voltada para a cultura eram prego e martelo batido. As irradiações compostas de óperas, poesias, bem como discursos. Alguém desconfiava que o rádio fosse um invento revolucionário. O rádio começava com o passar do tempo, causar muito interesse, começaram a surgir os pedidos de canais de transmissões ao governo, em consequência aumentaram as transmissões de óperas, poesias e discursos. Um dos pioneiros, o antropólogo e educador Roquette Pinto, transformou sua casa num verdadeiro estúdio. Já nessa ocasião ele todas as manhãs transmitia ou irradiava notícias de jornais e o poema Caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, de quem era admirador. Falava-se que as pessoas mal escovam os dentes e já escutavam a voz rouca de Roquette. Ele falava assim: “Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada do outono, quando a Terra, em sede requeimada, bebera longamente, às da estação…”.
Roquete com inteligência levava ao ar vozes de personalidades que visitassem o Rio de Janeiro e uma das vozes famosas foi a de Albert Einstein, considerado o pai da física. Ele falou na sua rádio. A moda pegou em quase todo Brasil, alguns modestos heróis da radiofonia transmitiam no mesmo esquema traçado por Roquette Pinto. O rádio era algo especial, a fidalguia estava presente, o tratamento na maioria das vezes era de vossa excelência. Ao fundo (BG) se ouvia o cacarejar de uma galinha ou o coaxar de sapos. Interessante este aspecto. No tempo de Roquette Pinto, os rádios não eram comercializados ou comprados, eles eram chamados de galenas e qualquer pessoa podia confeccionar o seu. Bastava para tanto pegar um caixa de charuto ou outra da mesma forma, introduzindo-a um cristal do metal galena, um regulador de contato improvisado, um indutor, um condensador de sintonia e os fones de ouvido. Quase tudo artesanal.
Para melhorar a sintonia usava-se uma antena esticada de fio de cobre entre duas árvores ou entre dois bambus, no jardim ou no quintal ou vice-versa. Todas essas nuanças aconteceram no período de 1922 a 1930. Começaram a surgir às canções populares e as óperas, poesias e discursos eram pouco a pouco desprezados. Tudo era planejado apesar das dificuldades e deficiências. – Fulano, beltrano de tal, esse magnífico cantor, de passagem pelos nossos estúdios vai cantar agora o seguinte… ”O rádio apesar das dificuldades tinha uma conotação de respeito que não existe nos dias atuais. Já no período de 1930, muitas empresas estrangeiras começaram a exportar aparelhos de rádios para o Brasil, os mesmos eram de válvulas (os famosos rabo-quente) e daí já poderia se afirmar que nascera a indústria radiofônica.
Os modestos e simpáticos galenas foram pouco a pouco substituídos pelos rádios de válvulas. O boom foi geral e o rádio começou a se espalhar Brasil afora e já não se falava em óperas, discursos e as poesias. Olavo Bilac estava quase aposentado no rádio. Discursos somente em datas festivas e cada vez mais a música popular tomava conta do rádio. Era o teatro em casa que hoje tomou outra sinonímia, a novela. O que permaneceu ainda por muito tempo foi à leitura de jornais e o tratamento de vossa excelência deu lugar a uma frase bem decente, pois os ouvintes mereciam respeito. –Amigo ouvinte… Outro aspecto começara a brotar e nascer nos intervalos das programações os reclames (os comerciais de hoje), na maioria era xaropes, polvilho para o sovaco (axilas), cálcio para velhos ou idosos, limpa-dentadura e as antigas pomadas para embelezar as moças (os produtos de beleza atuais). Desse período em diante surgia à magia do rádio, da qual falaremos em outra oportunidade.
(*) Antonio Paiva Rodrigues é coronel da Polícia Militar do Ceará. Bacharel em Segurança Pública, Gestor de Empresas e Jornalista integra a Associação Cearense de Imprensa, o Sindicato dos Jornalistas, Associação dos Ouvintes de Rádio do Ceará (Aouvir/CE) e a Academia de Letras dos Oficiais da Reserva do Ceará. Escreve na Revista Sentinela e nos jornais O Povo e Diário do Nordeste e em vários sites. Considerado o Melhor Escritor nas 500 edições do Jornal do Leitor de O Povo, tem trabalhos apresentados na Rede Alcar e na Metodista de São Paulo. Poeta é também autor de seis livros a serem publicados proximamente.

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