sexta-feira, 3 de junho de 2011

LEMBRA - SE DOS SPEAKERS?

No tempo dos spikers do esporte bretão

AUDIFAX RIOS

Na Rádio Nacional do Rio as estrelas fulgurantes eram o locutor Jorge Cury e Antonio Cordeiro, comentarista
03.06.2011| 01:30

O possante rádio Transglobe a postos, bateria carregada com o concurso de um velho tunga, o suficiente para atravessar a madrugada ligado a transmitir os jogos do Campeonato Sulamericano de Lima, quando Evaristo fazia mais gols nas quebradas andinas que o Pacoti em gramados agrestes. E o vai e vem das vozes dos locutores, ao sabor das ondas hertzianas, soava como um embalo musical a saudar a chegada da bola no fundo das redes.

Na Rádio Nacional do Rio as estrelas fulgurantes eram o locutor Jorge Cury e Antonio Cordeiro, comentarista. Em São Paulo a Bandeirantes imprimia seu sotaque pedante nos vozeirões de Edson Leite e Pedro Luiz, com idênticas incumbências. Uns sóbrios, outros precisos, davam conta do recado sem os modismos e neologismos nefastos que iriam imperar logo após a chegada de Waldir Amaral, Fiori Guilhotti, Geraldo José de Almeida e seguidores da nova escola. E na novidade, a crônica da arbitragem, impunha estilo o antigo juiz de futebol (ou refferee) Mário Vianna com invulgar estardalhaço que lhe renderia simpatia e ódio.

Cá entre nós despontava uma dupla nordestina (Pernambuco e Bahia): Ivan Lima e José Santana, que depois de anos de supremacia cedeu espaço a outra parelha: Gomes Farias e Paulino Rocha. Estes atingiram constantes índices de audiência a ponto de levá-los a assentos no plenário da Assembleia Legislativa. E, com impecável narração e comedidos comentários, a Ceará Rádio Clube (PRE-9) entrava no jogo mantendo a dupla Wilson Machado e José Eudes, ambos oriundos do Cariri, São Pedro e Crato. Escola sequenciada por Francisco Gadelha, Aldir Dudman, Tom Barros, Vilar Marques, João Eudes e Chico Rocha. E chega a vez do mineiro Halmalo Silva que por aqui fez bom nome e logo foi resgatado pela Rede Manchete (compradora das televisões associadas) a fim de narrar os jogos da segunda copa do México.Outros bambas a lembrar: Júlio Sales, Sérgio Pinheiro, Cid Carvalho, Celso Martinelli e muitos profissionais de peso que passaram pelos microfones da Uirapuru, Dragão do Mar e Verdes Mares. Isto lá entre os anos cinquenta e sessenta, pois anteriormente a primazia era disputada pela querida Perrenove (João Ramos) e a popular Rádio Iracema (Aécio de Borba). E é justo lembrar os locutores e repórteres de pista: Jurandir Mitoso, Bonifácio de Almeida, Peter Soares, Luciano Lima, na província; e lá pelo sul maravilha os bem sucedidos Faustão e Datena.

Hábito estranho, o torcedor ia ao estádio portando seu radinho de pilhas colado ao ouvido como se não acreditasse no que via, rogando o aval do spiker fantasioso. Logo no Presidente Vargas, onde o jogador exibia corpo e alma poucos palmos adiante do nariz. Essa infinidade de aparelhos portáteis creditava um fenômeno: toda a plateia aumentava o volume do receptor quando iniciava o programa humorístico de Joseoly Moreira. E a galera em pso cantarolava o sucesso que identificava a resposta musical, o carro chefe do “Bola de Meia”, segundo o slogan, a única que não enchia.

A estrela maior, claro, era a bola, que foi ganhando os mais diversos apelidos, desde o balão de couro do Cabral de Araújo à gorduchinha do Osmar Santos; passando pela margarida, pelota, esférico, redonda, até chegar à jabulami. E quando ela rolava no Campo do Prado os prélios eram irradiados por dois locutores, cada um responsável pela metade do espaço, e os mestres nesse mister foramJoramos e Mozart Marinho, em transmissão realizada do chão, próximo à linha divisória do gramado, aliás, bem precário. O chamado amor à arte. Coisa que até o Ari Barroso praticou do alto de um telhado olhando a peleja ao longe e tentando adivinhar seus lances. Ou mesmo num quarto de hotel portenho, com um rádio grudado nas ouças e fazendo uma duvidosa tradução simultânea. Se bem que hoje, nossos narradores relatem o espetáculo olhando para um telão, sem a devida emoção de carne e osso. A virtualização do foot-ball association.
 fonte: JORNAL O POVO - VIDA & ARTE