terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

RETIRADO DO SITE CAROS OUVINTES

 A ERA DO RÁDIO

Em 1987, Woody Allen nos brindou com o filme “A Era do Rádio” (“Radio Days”, EUA), ambientado em Nova York, na década de 1940. Numa das cenas mais agradáveis, o rádio toca uma música de Carmem Miranda e a filha do casal a imita na dança, enquanto a dubla. O pai e outros parentes aparecem na porta e, sorrindo, passam a observá-la. Subitamente, quanto entra o coro do “Bando da Lua”, eles passam a dublá-lo, também. Aquele era um tempo em que o cinema tinha hora e lugar, mas o rádio era onipresente, preenchendo cada espaço do dia com sua programação.
Sua influência e credibilidade eram tão grandes, e davam tanta margem à imaginação dos ouvintes, que Orson Welles, sem querer, criou um dos maiores pânicos da história da mídia, quando seu “Teatro Mercúrio” apresentou “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells, em 1938.
Gosto ver filmes antigos e eles são pródigos em imagens de pessoas em torno de rádios, ouvindo música, novelas, programas de auditório, noticiários… Devia ser incrível ouvir shows ao vivo, com astros como: Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Benny Goodman, Harry James, Duke Ellington e tantos outros monstros sagrados. Devia ser perturbador ouvir os pronunciamentos de Hitler. Devia ser um misto de amor e ódio ouvir a “Rosa de Tóquio”.
E foi assim, desde que a invenção de Marconi (ou seria do brasileiro padre Landell de Moura?) ganhou os ares; desde que a “Era do Rádio” teve início, nos EUA; e, no Brasil, desde que Roquete Pinto fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro: o rádio tornou-se um companheiro de todas as horas!
Nossos avós e pais conheceram os grandes momentos da Rádio Nacional: tremeram com a declaração de guerra ao “Eixo”; comemoraram o término do conflito; torceram pelo “Rei” e “Rainha do Rádio”; choraram em 1950; festejaram 1958; abriram o berreiro com as radionovelas mexicanas.
Eu mesmo cresci ouvindo rádio, nos anos de 1960, quando as emissoras tocavam músicas em vários idiomas: inglês, francês, italiano e espanhol. Ouvia: Aznavour, Brel, Bécaud, Morandi, Capri, Pavone, Beatles, Rolling Stones, Lopez, Montez… Isso ajudou muito no aprendizado de idiomas!
Já adolescente, ganhei um rádio portátil de minha avó materna e conquistei minha autonomia midiática!
As transmissões de jogos eram sagradas, mas o jornalismo não ficava atrás:
Eu começava às 22h00min, com o “Jornal de 30 minutos”, da Rádio Eldorado, de São Paulo, e terminava às 00h45min, com o jornal da Rádio Jornal do Brasil, do Rio. Eu era o adolescente mais bem informado da escola, ou seja, uma aberração!
Na França, onde fiz uma pós-graduação, o rádio era meu elo com o Brasil, pelas ondas curtas.
Hoje, é possível fazer tudo isso com TV a cabo e Internet, mas, mesmo assim, o rádio permanece como meio de comunicação ágil, com ênfase em jornalismo e prestação de serviços, com abordagens tão minuciosas que são quase como imagens. As transmissões digitais, aliás, colocarão esse meio de comunicação num novo patamar.
É certo que algumas emissoras, com suas programações repetitivas, alienantes e de qualidade duvidosa, fazem jus à ironia de um antigo programa humorístico de rádio, em que o apresentador de uma hipotética e patética emissora de “TV” anunciava: “[...] a única emissora de televisão em áudio! O som fica por nossa conta e a imagem fica por conta de sua imaginação inteligente e fertilizante.”. Mas, também não faltam aqueles que são capazes de entreter, informar e ser úteis de múltiplas outras maneiras, 24 horas por dia.
Assim, o rádio permanece com sua mágica, como se bebesse todos os dias água da fonte da juventude, pois nem ele nem os que falam por ele envelhecem aos “olhos” do ouvinte!
Por tudo isso, a era do rádio não terminou e nem vai terminar: Só vai mudar de “faixa” sempre que for preciso, para não perder a sintonia com a história!