sexta-feira, 4 de março de 2011

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pra frente Sucupira

LEMBRANDO LUIZ ASSUNÇÃO

Mestre Lula Assumpção

No papel pintava e bordava. Desenhava com a mesma veia moleque: era exímio caricaturista
04.03.2011| 01:30

Quando de minha vinda primeira a Fortaleza, em fins de 1958, o rádio já havia iniciado a tradicional disputa das marchinhas carnavalescas. Encabeçavam as paradas Me dá um dinheiro aí (Moacir Franco) e Naquela base (Jackson do Pandeiro). E pelo começo do ano seguinte já se ensaiavam nas sedes dos maracatus, blocos e na famosa Escola de Samba Luiz Assunção. Agremiação nascida com o nome de Lauro Maia e substituído pelo do sambista maranhense em 1945. Foi tricampeã do carnaval de Fortaleza nos anos de 1947/48/49.

Lula Assunção havia se cearencizado desde quando veio de São Luiz em 1928 e se casado no vinte e nove com Isaura Gomes de Oliveira. Ganhava a vida tocando piano em alegres pensões de mulheres ou acompanhando artistas até se firmar no “boradcasting” da Ceará Rádio Clube.

Apareceu com Sá Mariquinha, lançado pelo grupo musical cearense de renome nacional Quatro Azes e um Coringa. Depois gravado por muita gente de fama, inclusive Jamelão. Vieram muitos outros sucessos mas ficou imortalizado quando traduziu a invasão do mar na Praia do Peixe em 1953, com a música Adeus Praia de Iracema, que se tornou hino da taba.

Personagem emblemática da cidade, era visto constantemente na Praça do Ferreira onde os músicos se reuniam para conversas amistosas e contratos profissionais. O Abrigo Central era como que o escritório de Moreira Filho, Canhoto, Paulo de Tarso e tantos outros que vieram depois como Ivanildo, Ivan, Alberto Mota.

Na primeira vez que vi o Mestre Luiz de perto já trabalhava na TV Ceará, foi num ensaio dele com o cantor Guilherme Neto, ele ao velho piano de cauda vindo do auditório da Perrenove guardando tantas estórias. Uma delas diz que, em pleno programa, o músico não conseguia tirar o som ideal do instrumento porque ele mesmo havia guardado (e esquecido) sobre as cordas um pacote de roupa suja junto a barras de sabão, o que abafava as pretensões sonoras.

E tem o causo, já folclore, do concurso de marchinhas carnavalescas para o qual havia feito inscrição e, igualmente, esquecera. O evento ocorria num bar do centro da cidade, financiado por um tal Tibúrcio, o proprietário. Chamado a defender sua criação foi lá e lascou o improviso, enganchando-se no refrão. E tome a fazer hora com um caco: “Seu Tibúrcio, Seu Tibúrcio, Seu Tibúrcio”... sem chegar a uma conclusão. Até que, passando uma panorâmica sobre as prateleiras do bar, deu com um recanto repleto de garrafas de cerveja da marca Polar, cujos rótulos traziam como ilustração um enorme urso. E não deu outra: “Seu Tibúrcio, Seu Tibúrcio, Seu Tibúrcio / Que caraiada de urso!”

Nosso compositor faleceu a 9 de março de 1987, com 85 anos, pois nascido em 11 de junho de 1902. Morava pobremente no Jardim América, numa humilde casinha onde o piano era protegido por precária latada. Foi homenageado na sua praia com um busto que andou desaparecido por algum tempo. Consta da nova recuperação da orla um tratamento do Largo que traz seu nome. Merecia uma referência mais monumental, ou maior divulgação de sua obra que a nova geração desconhece.

Um compositor que dominava vários ritmos: samba, baião, marcha, choro bolero, frevo e até hino. No papel pautado pintava e bordava. No papel branco desenhava com a mesma veia moleque: era exímio caricaturista. Luiz Assunção, só a saudade ficou.
FONTE: JORNAL O POVO