domingo, 2 de outubro de 2011

uma reflexão importante

OPINIÃO: PROFESSORES APANHAM DELES, MAS VOTAM NELES!

Professores cercados pela tropa policial na Assembleia Legislativa
Em 1964, eu já era repórter cobrindo os movimentos populares de rua que se insurgiam contra o Regime Militar implantado em março. Lembro-me, como se fosse hoje, de lideranças sindicais, operárias, intelectuais, profissionais liberais, sofrendo a repressão do sistema e apanhando da polícia nas ruas. Essas cenas, quase apagadas pelo tempo, afloraram agora nas minhas retinas ao acompanhar pela TV Jangadeiro os episódios de truculência contra os professores na Assembleia Legislativa.
As mesmas lembranças fastidiosas já haviam acessado os velhos cenários com o confronto anterior na Câmara de Vereadores. A diferença é que nenhum dos cenários passados da repressão, pelo menos aqui em Fortaleza, teve por palco as instituições legislativas. Pelo contrário, os parlamentos em todos os seus níveis e instâncias associavam-se aos movimentos populares e serviram até de abrigo para muitos dos participantes, até que foram também ocupados pelas forças policiais e militares. Muitos dos seus membros foram também presos e torturados como os dos movimentos de rua.
Essas recordações trouxeram-me ainda conjecturas dolorosas e indesejáveis para quem foi repórter em duas épocas distintas: na ditadura e na reabertura democrática. E nas minhas lucubrações, em face dos episódios de ontem, 29, na Assembleia do Estado, surgiram duas realidades conflitantes: o parlamento como bastião de resistência dos movimentos contra os excessos do regime e os professores reprimidos e surrados como eram os personagens dos cenários de protestos naquela época. Agora, os parlamentares daquele tempo, que sofriam junto com os combatentes de rua, não eram como os que hoje os desprezam ou combatem. E se declaram dos chamados partidos de esquerda eleitos também pelo pessoal da esquerda que hoje apanha deles.
Os que tomam hoje conta do poder, praticamente em todas as hierarquias, nasceram com o voto dos professores, dos estudantes, dos sindicatos, das associações comunitárias, dos intelectuais engajados. Nenhum deles, porém, teve o meu voto, apesar de ser um jornalista procedente da classe proletária, simpatizante e defensor das vítimas do preconceito, da injustiça e da opressão. Estou com a consciência tranqüila por não ter nenhuma responsabilidade pela eleição desses governantes e parlamentares que, ironicamente, em nome dos interesses do povo massacra o povo, suas lideranças e se envolvem nos mais repudiantes escândalos de corrupção e manipulação da opinião pública. Fica então mais uma lição para aqueles que votam sob a premissa do “me engana que eu gosto”.
Wanderley Pereira é jornalista da TV Jangadeiro