quinta-feira, 28 de maio de 2009

PORQUE AS PIORES SÃO AS MELHORES

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PORQUE AS PIORES SÃO AS MELHORES
Por J. Pimentel

O grande público acaba gostando do que ouve no dia-a-dia, daí o sucesso das emissoras que tocam o que de pior se produz musicalmente no Brasil e no mundo.
Uma pesquisa IBOPE, publicada e analisada em CAROS OUVINTES (leiam “Pesquisa IBOPE: Pouco, quase nada, a favor de jornalismo!”) mostra que as primeiras colocadas entre todas as FMs de São Paulo são rádios populares ficando as noticiosas em posições intermediárias ou finais. O fenômeno é nacional e não apenas de São Paulo. É bom que se esclareça que a metodologia utilizada nas pesquisas é ineficaz e ultrapassada e não reflete a imensa pulverização de audiência que realmente ocorre. Outro equívoco é separar a audiência de AM e FM.
Ainda assim, os dados nos permitem algumas reflexões. Primeiro precisamos constatar quem ouve rádio por mais tempo, como ouve e por que ouve. Geralmente são ouvintes jovens de ambos os sexos, donas de casa, operários de diversos setores que formam a classe sócio-econômica C, D e E, de baixa escolaridade e jovem, ambos os sexos, nas classes A e B. Na se trata de preconceito, mas de constatação, está lá, na pesquisa.
Esse público predominante vem sendo alimentado por uma produção musical e cultural medíocre, baseada no sertanejo brega, axé, pagode, arrocha, calipso, salsa e ritmos assemelhados que já afetam até grupos sociais que os rejeitavam.
Essas músicas, de temas vulgares, de baixíssimo conteúdo intelectual e pobres harmonicamente, são enfiadas goela abaixo do povão, por dezenas de bandas com nomes exóticos, duplas sertanejas que se multiplicam, grupos de pagode sem qualquer qualidade musical, que enriquecem gravadoras e empresários, através de festas, micaretas, carnaval, São João, festivais e bailões por todo Brasil, com a parceria dessas emissoras campeãs de audiência e todos os canais de televisão. O grande público acaba gostando do que ouve no dia-a-dia, daí o sucesso das emissoras que tocam o que de pior se produz musicalmente no Brasil e no mundo.
Os apresentadores, quase sempre histéricos gritalhões, têm a inteligência de uma minhoca, com perdão às minhocas pela comparação e utilizam todos, as mesmas fórmulas já batidas, mas de resultado garantido. Fazem o que seu público consome e nada mais. Assim, várias emissoras (a maioria) se engalfinham na busca da maior audiência possível, o que não se reflete em retorno comercial proporcional à audiência, porque, nessas emissoras, é impossível se distinguir as mensagens dos patrocinadores, geralmente confinadas em blocos de hora em hora, ou de meia em meia hora, uma sequência embolada de comerciais que ninguém entende. Para agravar ainda mais, é comum o desprezo dessas rádios a quem lhes paga as contas. Todas elas apresentam sequências de “Uma hora de música sem intervalo comercial”, como se o intervalo comercial fosse um empecilho para a programação. Como se trata de um público com baixo nível de exigência, normalmente, na hora do intervalo comercial, ele muda de estação, para ouvir na concorrente as mesmas porcarias. As pesquisas não apontam essa rotatividade com eficiência, mas é o mesmo público que se desloca desta para aquela emissora com o mesmo perfil.
Algumas rádios fazem uso do humorismo como estratégia diferencial, mas são humorísticos vulgares, apelativos, sem grande criatividade, quase sempre baseado no talento duvidoso de um dos participantes. São programetes cheios de preconceito, piadas de mau gosto, sem conteúdo inteligente, que continuam atendendo essa massa estabulada pela mídia fácil da produção vulgar.
Quanto as rádios segmentadas estas teem público cativo, que gostam daquele estilo, ouvem com freqüência e se identificam com sua linguagem. Conseguem, de acordo com seu perfil de audiência, atrair anunciantes que acabam tendo bom retorno, mas também pecam pela incapacidade de se renovarem e pela ausência de criatividade, o que, com o tempo, acabam afugentando seus ouvintes, porque esse ouvinte tem um nível de exigência maior.
A constatação dessa audiência seletiva nas pesquisas ainda é insignificante, em razão do perfil desses ouvintes, do local onde ouvem suas emissoras favoritas e porque raramente são acessíveis aos pesquisadores.
As rádios voltadas para noticia teem alguns nós artísticos que precisam ser desfeitos, mas são importantes, têm audiência cativa e representam o único setor realmente inovador do meio rádio nos últimos anos, em que pese alguns anacronismos. Mas isso é assunto para outra análise.
O que falta são diretores artísticos, profissionais que pesquisem, analisem, busquem as melhores soluções para seu público e suas rádios e ajudem a formar bons profissionais que vão melhorar a audiência e dar consistência a programação. Isso significa investimento, palavra que os donos de rádio não suportam ouvir.

( * ) O autor é colunista do site do instituto Caros Ouvintes www.carosouvintes.org.br