Confortar os aflitos e afligir os confortáveis
qua, 20/07/11 por milton.jungPor Carlos Magno Gibrail
… Ou confortar os menos favorecidos e desconfortar os mais abastados. É a função do jornalismo, idealizada por Finley P. Dunne, jornalista do século 19, lembrada pelo Estadão no sábado, ao comentar a queda dos tablóides ingleses.
Murdoch, o poderoso do 4º Poder, que até então vinha no mercado inglês dos tablóides deleitando as multidões com as intimidades e desgraças dos confortáveis, cometeu o erro definitivo ao desrespeitar o público que deveria servir. O NoW – News of the World – 2,8 milhões de exemplares, no afã de notícias, se intrometeu em investigação de britânicos comuns causando danos irreparáveis. Afligiu a quem deveria confortar e se viu aflitivo tendo sido obrigado ao fechamento e consequente demissões, que no domingo já tinham chegado até a Scotland Yard e envolvendo membros do governo.
Na segunda, o primeiro repórter do NoW a denunciar as escutas ilegais foi encontrado morto. Sean Hoare foi afastado por uso de bebidas e drogas, mas sua morte ainda é uma incógnita.
Ontem, enquanto Hoare era autopsiado, Murdoch conseguia uma audiência de final de Copa do Mundo ao depor no Parlamento com direito a sabão de barba no rosto.
Entre nós neste período assistimos ao Pão de Açúcar e ao BNDES entabulando negociações que geraram reação imediata da mídia, a tal ponto que em poucos dias a proposta era desfeita. As jornalistas do jornal da CBN Lucia Hipólito e Miriam Leitão em conversa com Milton Jung deram contribuições importantes.
Dilma Rousseff com a recente experiência do caso Palocci, nas primeiras manifestações dos jornalistas ao caso do ministério dos transportes, decidiu rápido e não houve pizza, houve demissões.
Diante destes fatos tão positivos quanto à ação do 4º Poder fica a pergunta: por que não se faz sempre assim?
Fernando de Barros e Silva, ontem na Folha, respondeu a pergunta de Juan Arias de “El País” que indagava: por que os brasileiros não reagem à corrupção?
Silva atribui ao bem estar geral e ao controle governamental de entidades que poderiam reivindicar acompanhamento e punições aos gestores públicos.
Tendo em vista o sucesso atual das ações do 4º Poder, sim, a imprensa, depois do executivo, do legislativo e do judiciário, tem poder equivalente e pode mudar o curso combatendo a corrupção. E ainda se der sorte consegue extraordinária audiência nas TVs, rádios, jornais, revistas, sites, blogs e, por que não, nos tablóides.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Mílton Jung.
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