sexta-feira, 10 de junho de 2011

UMA REFLEXÃO SOBRE OS PAREDÕES DE SOM

Os nefandos paredões

"Temos que suportar tudo isso. Chama-se a Polícia, fala-se com a Justiça... e nada. A corja chega a abrir porta-malas"
10.06.2011| 01:30

Escrevemos da terrinha querida, Santana que foi Licânia, receosos de que estas visitas se tornem cada vez mais raras. Vários fatores motivam este afastamento involuntário, o mais grave deles a praga dos tais paredões sonoros que impedem uma boa conversa de calçada, um sono reparador.
Na pracinha onde moramos, reduto maior desses aparelhos infernais, muitas pessoas idosas já se foram antes do tempo por conta dos altos decibéis que põem no ar músicas de gosto duvidoso. Outros estão em vias de partir, alguns põem as barbas de molho, outros mais, simplesmente, desistiram de revisitar o torrão natal. Chico Pequeno, pai do nosso artista Paulo de Tarso, o Pardal, funcionário aposentado da Receita Federal, passou a vida amealhando trocados para a compra de uma casa na Praça do Congresso, o que de fato conseguiu. Reformou o imóvel, adaptou a seu gosto, e na hora de usufruir do sonho os imbecis decibéis cortaram-lhe o barato. Lá vai o Chico com nossa catequista Almira pros rumos do São João onde pode jogar fora a conversa que guardou por tanto tempo.

Olhe que também temos nossas preferências musicais, mas não andamos por aí com um possante carro de som a impô-las a quem não quer ouvi-las. E agora temos que suportar tudo isso. Chama-se a Polícia, fala-se com a Justiça... e nada. A inquieta corja chega a abrir porta-malas (ou porta-ruídos) defronte a calçada onde costumamos sentar com amigos de infância, parentes, conhecidos. Desconhecem a palavra respeito. Confessamo-nos perdidos, sem saber pra quem apelar.

Desculpe-nos, caro leitor, mas isso não é apenas um desabafo pessoal, este espaço está prestando, hoje, um real serviço à comunidade, fazendo um alerta já que devem ocorrer situações semelhantes por aí. Pena que não surja resposta. Uma cabecinha desmiolada que comete tais desvarios não deve saber parar para pensar. E nem repensar no malfeito e corrigi-lo.

Em Santana existem locais paradisíacos, o Parque do Povo às margens do açude Oriente; a beira do rio Acaraú; por que não utilizá-los, soltar os cachorros nestes confins e deixar em paz os que querem e tem direito de sossego?

Fica o protesto e o apelo às autoridades maiores para que deem uma olhada no que está acontecendo em Santana do Acaraú e em outras localidades onde deve ocorrer o mesmo. Se os mais sensatos têm ouvidos sensíveis, a Polícia parece ter ouvidos de mercador. Não ouve, não age, não justifica sua autoridade. A comunidade não quer que se proíba o uso dos paredões de som nos recantos públicos. Pede apenas para que se baixe o volume. Quanto ao gosto do repertório é outro sapo a engolir. A comunidade não quer que se corte a zorra da moçada, espera apenas que se cumpra a lei.

Já não bastavam os paredões assassinos em nome da intolerância ideológica e as muralhas da própria incompreensão humana. Agora esta parafernália de ruídos nefastos. Coisas do falso progresso que chega às cidadezinhas do Nordeste brasileiro. Junto com as drogas e os assaltos. Mas aí já são outros derreais.
Audifax Rios
audifaxrios@yahoo.com.br

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