sábado, 23 de abril de 2011

CUIDADO COM O QUE FALA NO MUNDO CYBER

Incontinência verbal traz prejuízos para usuários das redes sociais
Carolina Vicentin
Publicação: 13/04/2011 08:00 Atualização:



Em um país que acaba de comemorar os 22 anos de sua Constituição, falar em restrições à liberdade de expressão pode parecer uma loucura. Em tempos de redes sociais e Twitter, contudo, o assunto merece, no mínimo, uma reflexão. É o que dizem especialistas em comportamento e internet sobre o uso da rede de computadores como se ela fosse uma tribuna. Ao subir no palanque virtual, famosos e anônimos podem ter boas ideias, mas também soltar grandes bobagens — que colocam em risco a reputação e até o próprio emprego. Seja ela qual for, a mensagem chega aos computadores do mundo com a rapidez de um relâmpago e, muitas vezes, com efeitos que duram bem mais do que o imaginado.

As celebridades são as que caem mais facilmente na “armadilha”, embora qualquer pessoa possa se meter em confusão ao postar o que bem entende na web. “Esse fenômeno é como uma infância tardia da sociedade. O poder de manifestar sua opinião em um foro público como a internet é recente e as pessoas ainda não sabem administrar isso”, analisa o consultor Sidnei Oliveira, especialista em gerações. Muitas vezes, a repercussão negativa pode nascer de um comentário entre amigos.

Foi o que aconteceu com o ator Marauê Carneiro em março deste ano. De passagem por Teresina, no Piauí, para apresentar um espetáculo de teatro, Carneiro postou em seu perfil no Facebook uma mensagem nada delicada sobre a cidade. “Estamos em Teresina do Piauí, se é que o mundo tem c*, o c* do mundo é aqui!!!”, escreveu o ator. O comentário — que foi “curtido” por amigos de Carneiro — chocou os piauienses e levou ao cancelamento da peça que o ator apresentaria por lá. O artista tentou se retratar, explicando que a frase seria do humorista Juca Chaves, bastante conhecido na região. Chaves, obviamente, negou a autoria e deixou a saia ainda mais justa para o ator.

Outro famoso que falou demais foi o jogador Douglas do Grêmio. Em outubro passado, após uma derrota para o Fluminense, o atleta se irritou com o descontentamento da torcida e decidiu desabafar em seu perfil no Twitter. Usando palavras grosseiras, Douglas afirmou que os torcedores enfurecidos não entendiam nada de futebol. Depois de perder as estribeiras, apagou  sua conta no microblog.

Para Cláudia Matarazzo, especialista em etiqueta e comportamento, atitudes como as de Douglas e Marauê Carneiro refletem a falta de noção das pessoas sobre o que é o espaço web. “Os usuários ainda acham que estão protegidos pela tela do computador, pelo celular. A verdade, porém, é que todos nós ficamos muito mais vulneráveis, pois falamos com mais gente do que em qualquer reunião cara a cara”, observa Cláudia. A especialista acredita que a quantidade de bobagens também está relacionada a uma cultura onde parece ser necessário dar opinião sobre tudo.

Riscos
O hábito pode trazer problemas não só para as celebridades. A estudante paulista Mayara Petruso foi demitida de seu estágio e ganhou um processo na Justiça depois de postar um comentário xenofóbico, altamente preconceituoso, em sua conta no Twitter. “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”, escreveu a jovem, logo após a vitória da então candidata Dilma Rousseff nas urnas. O assunto provocou a ira dos brasileiros e foi parar nos Trending Topics do site. Mayara, que é estudante de direito, tentou se desculpar pelo fato em sua página no Orkut, mas o estrago já estava feito.

O descuido com o conteúdo de mensagens também pode ser arriscado para quem faz comentários inocentes, porém apaixonados. No ano passado, a empresa de hospedagem Locaweb demitiu um executivo que se envolveu em uma discussão futebolística no Twitter. Corintiano roxo, Alex Glikas xingou a torcida do São Paulo em sua conta pessoal após uma derrota para o time do coração. O problema é que a Locaweb patrocina o tricolor paulista. “De um modo geral, as empresas ainda desprezam o poder das mídias sociais. Ainda vamos assistir a muitos casos como esse, até que as companhias decidam criar políticas de uso da internet”, aposta o consultor Sidnei Oliveira.

Enquanto isso não ocorre, Oliveira aconselha os funcionários a se portarem no mundo virtual da mesma forma que se portariam na empresa: com discrição. Para quem acha a dica exagerada, o consultor lembra que a tecnologia modificou a ideia do que é público ou privado. “Antigamente, havia essa diferença, mas hoje, cada vez mais, as pessoas misturam o pessoal com o profissional. Quem nunca atendeu ou leu um e-mail de trabalho no fim de semana?”

Avaliação on-line
Se alguém tem dúvidas de como anda sua reputação no mundo virtual, o serviço www.reppler.com pode ajudar — pelo menos, no Facebook. O site faz uma espécie de análise do comportamento do usuário, classificando coisas como a menção frequente ao uso de bebidas alcoólicas e saídas noturnas. O serviço é tão apurado que dá pesos diferentes a cada critério conforme o tipo de atividade do internauta (quem trabalha em um bar falará mais facilmente de álcool do que quem trabalha em uma escola, por exemplo). O Reppler, por enquanto, é gratuito, e basta informar seus dados pessoais na página inicial.

Pérolas e saias justas
Conheça algumas manifestações infelizes feitas na rede de computadores.

“Estamos em Teresina do Piauí, se é que o mundo tem c*, o c* do mundo é aqui!!!”
Marauê Carneiro, ator, em seu perfil no Facebook

“Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado.”
Mayara Petruso, estudante, em sua conta no Twitter

“Ouvi por aí: agora que o Ronaldo se aposentou, quando será que o Sarney vai resolver pendurar as chuteiras?”
@STF_oficial, o Twitter do Supremo Tribunal Federal, em uma gafe que, mais tarde, foi creditada a uma funcionária terceirizada

“Por que foi o José Alencar e não o Sarney?”
Tuíte da Secretaria de Cultura de São Paulo, em mais uma escorregada envolvendo o presidente do Senado e a morte do ex-vice-presidente

“O torcedor que está nos xingando nesse momento é um FDP ingrato que não entende nada de futebol.”
Douglas, jogador do Grêmio, revoltado com a fúria da torcida

“Ch*, bambizada! Timão eooo!
Alex Glikas, então funcionário da Locaweb, no Twitter pessoal
 
Fonte: www.correioweb.com.br

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