domingo, 28 de novembro de 2010

UMA HOMENAGEM A GUILHERME NETO

UM MESTRE DE GERAÇÕES 

Sexta, dia 26, a TV no Ceará fez 50 anos. Guilherme Neto, um de seus criadores, tem 85 de idade e constitui uma legenda de realizações em seis décadas de atividades como cantor, jornalista, radialista, cronista, poeta, publicitário e dramaturgo. 

Suas referências artísticas começam na Ceará Rádio Clube dos anos 40 onde se profissionaliza como intérprete de músicas de compositores cearenses. Depois, de 1954 a 1960, dirige a emissora.

Em 26 de novembro de 1960 integra a equipe de implantação da TV Ceará Canal 2, nossa pioneira, e no ano seguinte assume a direção desse núcleo de produção local anterior à aparição do vídeo-tape. É de sua autoria, por exemplo, Poeira Vermelha, primeira telenovela da televisão cearense, no ar em 1961.

Ainda durante os anos 60, cria a disciplina Introdução à Linguagem de TV, no curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará.

No início da década de 70, sua gestão no Canal 2 instaura o sistema de transmissão em cores e coordena a realização de programas responsáveis pela difusão do então emergente movimento musical posteriormente conhecido por “Pessoal do Ceará”.

Como diretor artístico, inaugura em 1974 a Televisão Educativa Canal 5 e consolida até 1995 o sistema de tele-ensino no Estado.

Trata-se de um mestre de gerações. Não fez tão-somente. Soube fazer com que inúmeros profissionais fizessem, transformando-se em um deflagrador de vontades, um semeador de consciências. Transcende, portanto, a si mesmo. Além de detentor de talentos, é detector de talentos. 

Na crônica de nossa cosmopolita província, eis um dos autores e personagens mais amados: um sacrossanto boêmio, santo profano, padroeiro das prostitutas, uma espécie de Oxalalufã, testemunho da matéria-prima reciclável do tempo.

Seresteiro, saudoso enamorado da noite, ele ainda canta. No Clube dos Gatos, confraria que às quintas-feiras se instala no Náutico para ouvi-lo, sua voz lunar ecoa fazendo com que os ouvintes, enluarados pelo vigor das graves e agudas paixões, possam ser como preconiza Bilac capazes de ver, de ouvir e de entender estrelas. No entanto, teimando em desmerecer as qualidades musicais que a unanimidade lhe atribui, ele ao terminar de cantar, sempre afirma: Ôh, saudade de mim! Ôh, saudade do tempo que eu era homem! Hoje não sou homem, não; sou velho.

Ah, se cada um de nós pudesse se apossar de sua velhice para rejuvenescer e mais aprender com esse mago que nos ensina a viver infinitamente a exclamação de cada instante. Nele o passado, o presente e o futuro formam um tempo-trio que a um só tempo nos perpassa.

Por isso é que em nome de todos os profissionais que ele formou ao longo de sessenta anos, devemos saudá-lo assim: Ave, Guilherme Neto, ave canora! Os que viveram e os que vivem nossa cinquentenária televisão te saúdam. Obrigado por existir e por nos fazer existir. Ave, vida!
 
Ricardo Guilherme - Teatrólogo e escritor
ricardo-guilherme@uol.com.br

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