sexta-feira, 22 de maio de 2009

ESSAS IDÉIAS MERECEM REFLEXÃO.


Continuando a série sobre o diploma, a pergunta de hoje é: mas afinal, porque o patronato é contra a exigência de diploma para o exercício do jornalismo?
Uma das coisas mais intrigantes da discussão sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para profissionais da área é ver do mesmo lado veículos alternativos, rádios comunitárias e barões dos grandes meios de comunicação. Acho natural que boa parte dos veículos alternativos não sejam a favor do diploma, pois seu ideal de publicação é justamente o que não está padronizado, tem ojeriza do que está burocratizado – e, para alguns, a universidade representa exatamente essa burocratização. Quanto às rádios comunitárias, muitas delas alegam que este tipo de obrigatoriedade serve apenas para tolher a liberdade de expressão de seus colaboradores e minar a auto-estima das comunidades, tentando fazê-las acreditar que são incapazes de se comunicar sem um jornalista formado.
Ok. Faz muito sentido. Mas e por que, então, desta vez a grande imprensa está do mesmo lado das rádios comunitárias – que tanto combatem – e dos veículos independentes – dos quais tanto fazem pouco caso? É de estranhar. O argumento central dos editoriais contra o diploma é sempre a mesma e nobre “defesa da liberdade de imprensa”, como você pode perceber no trecho do editorial de 01 de abril de 2009 colado acima.
Como bem definiu o debochado e geralmente mal-compreendido Paulo Francis, “uma imprensa livre é, em boa parte, a liberdade dos donos da imprensa que pertecem, direta ou indiretamente, aos núcleos do poder econômico”. Realmente, se os empresários da comunicação estão tão preocupados com a liberdade de expressão, estariam também levantando a bandeira das rádios comunitárias, da democratização dos mídias, etc. Logo, este argumento bem-intencionado - não sei se alguém ainda acreditava – não soa nada verdadeiro.
Por outro lado, os pró-diploma apontam um motivo mais pé-no-chão para a posição dos patrões: sem precisar contratar diplomados, eles estariam livres para pagar o salário que quisessem aos seus funcionários, e também seria mais fácil fazer com que eses funcionário produzissem um conteúdo de acordo com a vontade da chefia. Pode fazer sentido, mas não são argumentos que convencem.
Quanto aos salários, o piso do jornalista é pouco mais de mil reais, é possível achatar mais sim, no entanto há um limite – eu por exemplo deixaria a profissão para me dedicar a um táxi ou outra coisa mais divertida e rentável. É possível baixar o salário, mas não a um ponto que seja tão lucrativo que valha a pena pagar um lobby no Congresso, fazer campanha, mobilizar a população, e assim por diante.
Já o caso de que pessoas sem formação universitária seriam mais “manipuláveis”, bom, aí é mais difícil ainda concordar. Nas universidades, muitas pessoas não se importam de reproduzir o pensamento dos patrões da mídia, porque são os mesmos pensamentos seus. Há pessoas sujeitas a esse tipo de trabalho tanto dentro como fora das faculdades de jornalismo – talvez dentro das faculdades existam até mais, pois ali pode ser um ponto de encontro de futuros jornalistas vaidosos – antes que me peçam pra descer do pedestal, realço que usei o verbo “pode”, que indica possibilidade, e não certeza.
A formação universitária está cada vez mais voltada a um ensino tecnicista que forma mão-de-obra em massa para trabalhar na grande imprensa, por que então os patrões estão contra ela, se assim parece mais sua aliada do que rival? Ou há alguma motivação desconhecida para serem contra o diploma, ou a posição dos donos dos grandes veículos de comunicação está realmente equivocada.
*O Lerina publicou em sua Contracapa há uns dias uma frase em que o tremendão Erasmo Carlos revela que adorava curtir uns momentos caseiros com a esposa sob o uso de drogas. A frase faz parte da entrevista da Trip deste mês, que ainda não encontrei nas bancas. Em meio a uma imprensa que demoniza o uso de drogas, vem bem a calhar essa oxigenção. Que o crack virou um problema social, sim; que todas as drogas são um demônio, não. Se quiserem, podemos ir mais a fundo neste assunto outro dia, é só comentar aí. Hasta!
Postado por Ale Lucchese
DO SITE


Nenhum comentário: