segunda-feira, 15 de agosto de 2011

UMA REFLEXÃO

Observatório da Imprensa - 15 Anos

MÍDIA RADIOFÔNICA

Mera terapia

Por Francisco Djacyr Silva de Souza em 08/08/2011 na edição 654
Fiquei várias semanas sem escrever artigos sobre comunicação e sobre minha grande paixão, que é o rádio, mas não me contive e resolvi continuar a minha terapia diária e tentar passar algumas ideias sobre o que vem ocorrendo neste meio de comunicação. Digo terapia porque pouca coisa se resolverá e a luta por um rádio de qualidade é muito pequena e quase sem adeptos, como tenho constatado nas tantas reflexões que faço e que geralmente passam a semana sem nenhum comentário. Por que se despreza tanto o rádio como meio de comunicação? Por que a situação do rádio continua em função da não transformação deste meio no que preceitua a lei que deveria ser uma concessão pública?
Fiquei sabendo nos últimos dias que há emissora em Fortaleza que cobra quatro mil reais por uma hora de programa semanal para arrendamento. A pergunta é: como o arrendatário irá cobrir esta despesa com patrocínio, visto que pouco se investe em rádio em nossa cidade? Por outro lado, as grandes emissoras da nossa cidade continuam a filtrar a opinião do ouvinte em função dos compromissos propagandísticos com os governos, que distribuem a verba da publicidade no sentido do velho cala a boca.
A grave situação do rádio no Brasil vem sendo vista a cada dia. Recentemente, uma emissora demitiu a maioria dos funcionários, que eram grandes radialistas de renome conhecido e de grande audiência, em função somente do interesse da rede pela divulgação dos temas e ações da religião que domina a emissora. Ninguém faz nada, ninguém diz nada e os que denunciam apenas o fazem, mas não há repercussão alguma. Temos vistos graves problemas no rádio, onde a comunicação continua a serviço dos interesses dos supostos donos de emissoras, e não dos seus usuários.
Palavras vazias e amorfas
Já tentamos, através da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, promover eventos que ressaltassem o rádio e até a criação do Museu do Rádio em nossa cidade não teve a repercussão nem o apoio necessários, mesmo exaustivamente divulgada em todos os meios de comunicação. O rádio continua sofrendo de males provocados pela situação de completo desinteresse dos que se dizem seus proprietários e as mudanças vêm ocorrendo sem comunicação aos ouvintes e muitas vezes para pior.
Nossa luta pelo bem do rádio não tem sido reconhecida, pois parece que lutar pelo rádio é mexer com uma rede de interesses que não deixa que a situação seja mudada ou transformada. O rádio é assim mesmo, ninguém mexe, ninguém fala nada, pois o status quo tem que continuar. Os problemas do meio rádio continuam, pois até mesmo os sindicatos representativos da classe varrem a sujeira para debaixo do tapete – parece que ninguém se interessa com o que se passa no rádio.
O rádio só não morreu porque ainda há abnegados que cultuam sua história e a massa popular tem grande interesse neste meio de comunicação, que é e continuará sendo um meio que tem a versatilidade necessária para chegar a todos os lares. O rádio precisa de investimento, organização dos usuários e cumprir sua finalidade como concessão pública para o bem da sociedade e do mundo em geral.
No entanto, vale ressaltar que estas palavras mais uma vez soarão vazias e amorfas, pois realmente ninguém quer saber do rádio...
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação dos Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]

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