segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CAUBY PEIXOTO - UM NOME DA ERA DE OURO DO RÁDIO

Charme, encanto e mistério aos 80

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Cauby Peixoto: ídolo chega aos 80 ainda nos palcos e com planos de lançar dois novos discos
FOTO: FUTURA
7/2/2011
Cauby Peixoto está completando 80 anos. O "professor", que acaba de lançar CD e DVD "Cauby Sings Sinatra", prepara para este ano o disco "CauBeatles", com canções dos Fab Four
Na próxima quinta-feira, 10 de fevereiro, um dos mais importantes ícones da Era de Ouro do Rádio Brasileiro, Cauby Peixoto, completa 80 anos de vida.Em plena atividade, o "Professor", como é conhecido no meio artístico, conversou longamente com o Caderno 3.

Com aquela voz impostada, sedutora, calma e quente, que ainda causa o mesmo frisson de 60 anos atrás, Cauby contou histórias, relembrou passado, falou de futuro e cantarolou trechos de antigas canções. "Nasci em Niterói, em mil novecentos e alguma coisa", desdiz, displicente, o filho mais novo dos seis que tiveram o casal Elisiário Peixoto e Alice Carvalho Peixoto.

Todos artistas e com nomes indígenas: Moacir, Araquém, Andyara Iracema, Aracy e Cauby."Um era pianista, outro, pistonista, outra cantava. Minha mãe cantava bem e meu pai tocava violão. Mas esse negócio dos nomes, deveu-se mesmo a meu pai, ele era meio índio, caboclo mesmo, de pele bem morena e cabelo liso", recorda.

Embora Cauby Peixoto goste de recordar o passado e, discretamente se envaidecer com as memórias dos tempos onde as "macacas de auditório" costumavam rasgar as roupas quando ouviam "The Voice", seu forte continua mesmo sendo as novidades.

Projetos futuros
Tanto que, para comemorar suas 80 primaveras, a produtora Lua Music acaba de lançar o CD e DVD "Cauby Sings Sinatra". Nele, o "Professor" interpreta clássicos do repertório do ídolo norte-americano, como "Strangers in the night", "All the way", "Let me try again", "Fly to the moon", "My way (Theme from New York New York)", "The world we knew", "All the things you are".

"Para 2011, estamos com o projeto de gravar somente músicas dos Beatles. O disco se chamará ´CauBeatles´´", antecipa.

Mas não é só. Além de estar preparando outro CD, apenas com voz e violão, nos próximos dias será lançado o documentário "Começaria tudo outra vez". O diretor, Nelson Hoineff, tem no currículo a direção de "Alô, alô, Terezinha", que retratou a vida de Abelardo Barbosa, o Chacrinha; e "Caro Francis", que conta a trajetória do jornalista Paulo Francis.

"Toco há sete anos no Bar Brahma (no cruzamento da Ipiranga com avenida São João), em São Paulo. Lá foram feitos diversos registros para o filme. Mas ele tem também depoimentos, imagens de arquivo, fotografias, enfim. É sempre muito bom falar da carreira, uma honra mesmo", detalha.

Aos 80, com o mesmo visual andrógino de outros tempos, com madeixas encaracoladas e roupas nada discretas, Cauby mantém aquele ar de falsa modéstia, próprio da velha guarda da música nacional e internacional."Eu tinha uns 15 anos e minha professora de canto dizia: ´Cauby, baixe esse tom. Você está atrapalhando os alunos. Está cantando muito alto". Mas eu comecei a cantar melhor por causa de meu irmão. Também treinava com meu pai, tinha um piano na casa de minha tia. Nossa família era muito musical. A gente ouvia Orlando Silva, Silvio Caldas, Francisco Alves e outros", rememora.

E continua. "Nesse tempo, via todos meus ídolos, Carlos Galhardo, Gilberto Alves. Eu gostava demais. Ficava todo envergonhado quando eles apareciam na rádio e eu estava cantando. Só depois fui me acostumando. Mas sempre tive muito prazer de cantar e admiração pelos grandes cantores, porque era preciso ter voz. Eu tinha, mas minha voz era horrorosa, alta demais. Depois é que fui aprendendo cantar mais suave".

Conceição
Muitas músicas ficaram imortalizadas na voz do ídolo, como "Bastidores", de Chico Buarque, feita especialmente para o mestre: "Cantei, cantei, jamais cantei tão lindo assim / E os homens lá pedindo bis / Bêbados e febris a se rasgar por mim". Ou "Alguém me disse", do cearense Evaldo Gouveia, em parceria com Jair Amorim: "Pouco me importa que tu beijes tantas vezes / E que mudes de paixão todos os meses".

Contudo, nada, nada se compara ao estrondo de tons graves e sofisticados que, em 1956, através da gravadora Columbia, pulverizou o País de Norte a Sul. "Conceição", canção escrita por Jair Amorim e Valdemar de Abreu, o Dunga. "Eu me lembro muito bem / Vivia no morro a sonhar /Com coisas que o morro não tem".

"Comecei a cantar ´Conceição´ e eles gostaram da voz. Daí fui para a casa de meu padrinho, Sr. Di Veras, que foi quem me lançou como cantor no Brasil, ele era um descobridor de talentos e fez minha carreira baseada no convívio das fãs. Dizia que quando Cauby canta, as fãs desmaiam, saía na reportagem assim mesmo", afirma o cantor, sem falsa modéstia.

"Vou contar para você a razão do sucesso de ´Conceição´. Primeiro, ficou muito bem gravada; e, segundo, quando Di Veras levou o acetato para a Rádio Nacional, a música tocou justamente quando estavam anunciando o enterro de Getúlio Vargas. Foi audiência máxima, daí o sucesso da ´Conceição´", revela o professor.

"E era verdade, Cauby? A mulherada passava mal mesmo?", indago. Ele responde com aquela gargalhada compassada e caudalosa: "Teve uma que desmaiou sim, mas uma só. Acontecia mais porque tinha sempre muita mídia, Cauby vai casar com a miss Portugal, Cauby isso, Cauby aquilo. Tinha muita agitação sim".

Sem filhos, morando em Higienópolis, São Paulo, aos cuidados da secretária Ene, Cauby é réu confesso: "Continuo gostando da noite, de um bom vinho, um uísque. Mas não costumo receber ninguém em casa, nem fazer visitas. Não tenho tempo, durmo duas vezes ao dia. Acordo, almoço e durmo novamente, gosto de estar descansado à noite. Mas sou bom de mesa, como de tudo, feijoada com carne seca, rabada, filé mignon com batata corada, mas Ene só faz isso de vez em quando. No dia-a-dia é mais leve, legumes e tal. Mas a saúde está bem, bacana, tudo certo", garante.

A conversa se encaminhou para um desfecho. Do diálogo que iniciou com quase formalidades, finalizou com agradecimentos calorosos. "Quero agradecer, de todo coração, essa amizade tão longa e distante, que acompanha Cauby até hoje. Desejo o mesmo sucesso para essa gente toda".Nós é que agradecemos, Cauby. Feliz Aniversário e vida longa ao Rei!

NATERCIA ROCHAREPÓRTER

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