quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

VEJA

O CACETE DO DEDÉ - JORNAL O POVO 



Vinicius de Moraes que me perdoe, mas fundamental é elegância. Antes da beleza, elegância. É preciso elegância até pra descer o cacete em alguém.

Carlos Lacerda, o líder civil do golpe de 64, era deputado e inimigo de Getúlio Vargas. Durante discurso na Câmara, Lacerda foi interrompido por Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio: “Vossa Excelência é um purgante”. E Lacerda, sem perder a pose: “E Vossa Excelência, o efeito”. Vamos reconhecer, da maior elegância.

O maior jornalista vivo do Ceará, Dedé de Castro, um dos maiores repórteres de todos os tempos, acaba de fazer 90 anos.

Durante a ditadura assinava uma coluna chamada O Cacete do Dedé. Coragem e elegância. Descia a ripa nos malfeitores sem dó nem piedade. Jamais cometeu uma indelicadeza. Era impossível condenar Dedé pelos ataques que fazia aos corruptos, ladrões e omissos. Todos aqueles que, vocês sabem, enriqueceram com dinheiro público. Antes de mais nada, porque tudo o que escrevia era verdade. Fazia as críticas mais ácidas com tal dose de humor, irreverência e elegância que a mais contundente cacetada ganhava respeito e admiração de todos. Quase todos, vá lá.

O primeiro mandamento do bom repórter, aprendi com ele.

“Desconfie de repórter que não bebe, meu filho”. Redação de jornal que se preze, ele dizia, tem que ter um botequim por perto.

Vinha caminhando pela redação, passinho curto, andar lento e piscava um olho com ar de malícia: “Reunião de pauta....”. E lá ia o Dedé arrastando a turma pro boteco.

As grandes pautas, as melhores reportagens surgiam nessas rodas.

A segunda lição de repórter, também aprendi com ele. Viver na rua, ter o olhar atento e saber ouvir. Repórter é um contador de histórias. Se não sabe observar, não circula, nem é curioso, jamais terá uma boa história pra contar. Nem repórter será.

Hoje em dia tenho sentido tanta falta de uma boa história.

Morro de saudade da elegância do Dedé.

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