terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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O RÁDIO E A CIDADE
 
Por Antunes Severo em 28/11/2010
 
A cidade é um imenso rádio multi-canais repleto de sons, nuances, tons e vibrações. A cidade fala, grita, faz atchim, *******, bate o bumbo, boceja, solfeja, cacareja, arrulha, faz borbulha (blu, blu, blu). Buzina, toca o sino, liga o megafone, tique-taca o relógio, ronca o dorminhoco, late o cão, mia o gato, range a porta, relincha o cavalo petrificado na praça, nu.
O rádio mira a cidade, ausculta a temperatura, mede a vibração da ponte, a direção do vento, a pressão da água que esguicha no hidrante; a cidade ouve o político, espreita o padre, xinga o prefeito, mas faz tudo com jeito. Sem muitos alardes pra não despertar a suspeita de que está deste ou daquele lado. – Eu seu prefeito? Longe de mim. Nem pensar…
Bom moço, o rádio é bem comportado: “sim senhor, sim senhora, não me leve a mal, foi sem querer, veja bem, a final o nosso público é o nosso… É o nosso maior bem”! E por aí vai caçando o ouvinte, mas, o dono (dono?) vai firme sempre de olho no faturamento.
Ah! Se não fosse o rádio que tédio seria a cidade!
Ah! Se não fosse a cidade o que seria do rádio?
Ah! O rádio toca música, o cidadão toca flauta; o rádio tem estúdio a cidade tem estádio; o rádio informa o cidadão, o cidadão deforma a cidade. Oi, calma lá: o rádio é um bem público! Sim, mas a cidade é o público; público do rádio! E agora, quem dá mais por esta encrenca que nunca se acaba? Ou será que um dia o rádio vai mesmo ter voz, sem temor, que não desaba?
Ah! Se não fosse o rádio que tédio seria a cidade!
O rádio enche os ouvidos da cidade. São centenas, milhares de notícias sem importância para que a cidade não ouça o que mais importa. Em compensação a cidade fala pro rádio um monte de coisas que ele não compreende.
Ah! Se não fosse a cidade o que seria do rádio?
A cidade não é boba, fala ao vento que transforma a fala em alento que por sua vez alimenta quem com seu ar sustenta. Mas, a cidade nem sempre satisfaz o homem que diz que faz e arrebenta, nem que seja às brincas, porém ele sustenta: “comigo não, violão. Aqui quem manda é o patrão!”
O rádio não vive sem a cidade. A cidade mal sobrevive sem o rádio. Cidade sem rádio é como leite desnatado, só mantém a cor, mas não tem sabor. Cidade sem rádio é mar sem água, beijo sem amor, é carícia sem afago, é vida sem valor.
 
Artigo extraído do site: http://www.carosouvintes.org.br/

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