segunda-feira, 12 de abril de 2010

uma leitura para conhecimento histórico


O PRIMEIRO APARELHO DE RÁDIO

        Como o tempo voa! Parece que foi ontem...E, no entanto , o 1922 já vai ficando distante.E 16 anos são passados na ampulheta inexorável.
        Foi naquele centenário da Independência, comemorado país afora com tantas festas deslumbrantes, que Fortaleza veio a possuir o primeiro aparelho radiorreceptor.
        Sua construção deve – se à habilidade curiosa do radio – amador cearense Clóvis Meton de Alencar.
        Corria o mês de outubro. De volta do Rio, onde fora assistir aos festejos retumbantes ali realizados, e onde tivera  ensejo de assistir ao funcionamento de uma aparelho de rádio, na residência do então ministro Francisco Sá, o engenhoso cearense meteu – se de corpo e alma na empresa árdua de fabricar coisa idêntica.
        Naquela ocasião , os receptores existentes na capital da república eram em número diminuto.
        Para consecução do seu desejo , lutou com várias dificuldades, principalmente com a falta de material adequado. Ainda no Rio tratou de munir – se do necessário.
        Percorreu inutilmente várias casa comerciais cariocas e grande foi sua desilusão a verificar que não existia permissão para a venda de tal material.
        Por informação de uma amigo, soube que a companhia West Electric, com estação experimental instalada no alto do Corcovado, a fim de funcionar durante a exposição centenária, tinha distribuído , a título de propaganda , no recinto da feira comemorativa, algumas lâmpadas receptoras(válvulas) 216 – A , fabricadas por aquela empresa.
        Com não pequenos embaraços, comprou uma dessas lâmpadas pela importância de 150$000.. Foi esse todo material que obteve para o seu receptor , o qual trouxe para Fortaleza, onde desembarcou a 25 de setembro.
        Logo no dia seguinte deu início aos seus trabalhos , vindo a montar o receptor num simples pedaço de madeira medindo trinta centímetros de cumprimento, tendo vinte e cinco de altura.
        Os elementos componentes, tais como soquete , condensadores variáveis e fixos , resistência, bobinas e baterias, afora a lâmpada adquirida na capital do País, foram confeccionados por ele próprio.
        O aparelho assim armado, apesar de nada ter de artístico , passou a funcionar satisfatoriamente.
        E naquele 4 de outubro, com um grupo de amigos, Clóvis conseguiu , a tantas horas da noite, ouvir, com perfeita nitidez uma audição irradiada do Rio pela estação, então em experiência no Corcovado, que era a Rádio Clube do Brasil.
        Foi grande a satisfação que sentiram todos, principalmente Clóvis Meton, que era a primeira pessoa que tinha ouvido radiotelefonia, não só em Fortaleza com também em todo Norte do Brasil.
        Na opinião dos técnicos  , a esse tempo, as transmissões radiofônicas pelas grandes estações de então tinham um alcance compreendendo de 5000 a 10 000 metros.
        Assim, quando Clovis disse a alguns amigos que estava construindo um receptor para captar as irradiações da Europa, eles levaram – no na troça, pois não podiam compreender que um aparelho tão rudimentar pudesse ouvir a uma tal distância. No entanto, graças à sua tenacidade e à sua habilidade , conseguiu o almejado desiderato, sendo esse aparelho de rádio construído exclusivamente devido ao seu próprio esforço.
        O mestre que o encaminhou na organização desse receptor , foi um brochura francesa de Conste, que ensinava a construção de um aparelho regenerativo para ouvir , em Paris, as irradiações da Torre Eiffel.
        Do primitivo aparelho de Clóvis Meton, hoje nada mais resta senão os condensadores e as bobinas.
        E foi esse o primeiro radiorreceptor que apareceu, na capital cearense , naquele 1922, que já vai ficando longe...


Texto retirado do Livro COISAS QUE O TEMPO LEVOU(RAIMUNDO DE MENEZES) – CRÔNICAS HISTÓRICAS DA FORTALEZA – FORTALEZA, EDIÇÕES DEMÓCRITO ROCHA, FORTALEZA, 2006

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