segunda-feira, 3 de agosto de 2009

veja o editorial do Jornal Diário do Nordeste sobre a questão das torcidas organizadas -vale refletir...


Editorial
Fanatismo exacerbado
Pela constância dos violentos conflitos nos quais se envolvem, integrantes de torcidas esportivas organizadas costumam ser considerados marginais, ou adeptos do vandalismo, criando em grande parte da população uma imagem negativa e, em certo sentido, tendenciosa, tal como ocorre em todo tipo de generalização.Recente levantamento realizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas do Futebol, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, vem reverter parcialmente esse conceito, em estudo procedido para enfocar o perfil do torcedor organizado. Ao contrário do que se supunha, ao se associar esse perfil a pessoas de classes sociais menos favorecidas ou sem instrução, a pesquisa em pauta revela que as torcidas abrangem grande número de jovens com bom nível educacional, que moram em companhia dos pais e têm noção da própria responsabilidade nos atos violentos em que eventualmente estejam envolvidos.A partir da conclusão aferida, o estudo sugere que se comete um julgamento apressado quando se generaliza a respeito do tema.Entre os torcedores pesquisados, 31,5% afirmam que os principais motivos para a violência no meio esportivo são o fanatismo exacerbado e a provocação acintosa dos adversários, seguidos de fatores inerentes à própria personalidade dos conflitantes, como falta de educação doméstica e índole agressiva.Apenas 6% dos entrevistados acreditam que o consumo de álcool e drogas leva à violência. Esses vícios existiriam, por suposto, em qualquer segmento da população, com idêntica porcentagem de risco para a sociedade.Um dado preocupante é o fato de o Brasil liderar o ranking de mortes ligadas ao futebol, somando um total de 42 óbitos de torcedores ocorridos dentro ou nas proximidades de estádios de futebol, nos últimos dez anos.Outra das constatações graves do estudo é aquela apontada por 47% dos entrevistados, os quais acusam certos setores da mídia nacional como incentivadores da violência no futebol, com o objetivo de explorá-la em proveito próprio em divulgações de caráter sensacionalista. Esse tipo de mídia, na opinião de quase metade dos pesquisados, incitaria torcedores uns contra os outros, divulgando notícias fomentadoras de discórdia entre os times e estigmatizando as próprias torcidas como agrupamentos de marginais à cata de arruaças.Tanto a violência em si, geralmente exteriorizada na realização de jogos decisivos dos campeonatos, quanto o estímulo capcioso e oportunista de terceiros com a intenção de deflagrá-la merecem adequado enquadramento e punição por meio de legislações específicas.Faz-se necessário, além de uma polícia especializada destinada a lidar com torcedores, como já existe nos grandes centros, uma ampla divulgação dos preceitos do Estatuto do Torcedor e a efetiva observância daquilo que está prescrito na Comissão Nacional de Prevenção da Violência, criada em 2004 mas praticamente inoperante até o momento presente.

DIÁRIO DO NORDESTE - DOMINGO, 02 DE AGOSTO DE 2007

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