http://www.youtube.com/watch?
O site oficial da Bienal do Livro do Ceará, evento organizado pelo
Governo do Estado do Ceará, anunciou: “A X Bienal do Livro será aberta
em grande estilo”.
Nós nos perguntamos: para quem? Mais de 500 pessoas ficaram entre 1 e
2 horas em pé na fila para serem avisados/as com total negligência de
que os 2500 ingressos tinham-se esgotado em apenas 30 minutos.
Em primeiro lugar: como um show que se pretende “popular” acontece em
um espaço fechado e com distribuição de supostamente apenas 2500
ingressos? Está claro que a distribuição de ingressos se deu, pois o
Governo do Estado sabia que o espaço não deveria comportar esse evento
segundo a perspectiva organizacional, já que todos deveriam assistir
ao show sentados/as. Além disso, registramos várias pessoas que não
estiveram presentes na fila retirando seus ingressos de envelopes.
A entrada do Centro de Convenções tem duas portas, uma do lado da
outra. Havia uma porta aberta, por onde entravam as pessoas da
organização. Logo após a divulgação, um grupo de 5 estudantes
sentou-se em frente à porta de vidro fechada do Centro de Convenções.
Jayane Ribeiro e Cláudia Araújo – estudantes de medicina, Getúlio–
estudante de filosofia, Diana Araújo – estudante secundarista e
Eduardo Moreira – estudante de dança. Nos sentamos em frente a porta
fechada num sentimento de decepção do que tinha acontecido, colocamos
para tocar o cd da Gal Costa para tocar e abrimos uma caixa de
chocolate. Nesse momento, um segurança se aproximou e disse que
deveríamos desencostarmos-nos da porta “para a nossa segurança, pois
se o vidro quebrasse”. Questionamos que o vidro era temperado, que só
estávamos sentados e permanecemos no local. Logo depois, um segurança
de uma patente mais alta, pois estava de terno, aproximou-se e disse
que nós deveríamos sair dali porque estávamos impedindo a circulação
das pessoas, porque ela iria abrir às 18 horas. Nesse momento eram
16:30 horas. Logo depois, aproximou-se o chefe da segurança,
juntamente com os guardas, fecharam a porta de transito de pessoas,
abriram a porta na qual estávamos encostados/as e alegaram que nós
estávamos obstruindo a passagem. Novamente chegaram mais seguranças e
pediram para que nos retirássemos. Nesse momento, um de nossos colegas
disse para as pessoas filmarem, e o guarda se aproximou, deu tapas nas
costas de nosso amigo e disse “não é preciso estar filmando pra eu te
dar uma pisa”. Que chefe de segurança é essa, terceirizada, e para
pelo Governo do Estado com o nosso dinheiro para ameaçar estudantes
que não estão fazendo nada? Pois bem, permanecemos no local. A chefia
da segurança acionou policiais da casa do Governo, ao todo foram 6
PM’s armados, com sprays de pimenta, com teaser enviados porque 5
estudantes estavam sentados no chão do Centro de Convenções.
Mesmo com a chegada dos policiais, nos mantivemos no local, pois
estava claro que sabíamos que estávamos sendo reprimidos que era o
histórico de repressão, disciplinamento e criminalização da juventude,
havia o medo de que esses estudantes tumultuassem o show organizado
para as elites.
Questionamos que Estado é esse que só aparece para reprimir a
população? Ouvimos da boca de um policial: “eu sou o representante do
estado”. De fato, é esse o papel que o governo estadual, federal e
municipal tem cumprido junto à população.
A polícia veio, e, inicialmente, pediram para nós sairmos. Pensaram
que só com a intimidação das suas fardas e suas armas iríamos embora.
Vendo que mesmo assim, questionávamos a atuação, e, ainda mais,
aprofundávamos nossa crítica, por ver a agilidade com que a policia se
fez presente no local, o que não acontece em casos de ocorrências
verdadeiras, como o show de compra de votos que vimos no processo
eleitoral, por exemplo. Eles começaram a agir com truculência, com
seus sprays de pimenta em punho e só não os utilizaram por muito
pouco. Dissemos para as pessoas filmarem, e os policiais coagiram as
pessoas que estavam filmando com seus celulares. Com a chegada da
grande mídia, os policiais recuaram um pouco em suas ações. Algumas
pessoas deram entrevistas, e eles se afastaram 50 metros do local.
Após esses acontecimentos, o serviço interno do evento trouxe um
carregamento, e a ordem da segurança foi passar o carregamento por
cima da estudante secundarista de 17 anos. Como perceberam que, mesmo
o carro tocando-a, ela não se moveria do local, 6 seguranças
cercaram-na e começaram a removê-la a força. Tudo isso
propositalmente, pois o próprio segurança também estava ocluindo a
passagem, bem como havia uma porta ao lado que eles fecharam para
utilizar como subsídio de que estávamos obstruindo a passagem.
Nesse momento, em que a segurança estava agredindo a estudante menor
de idade, chamamos os policiais e eles se recusaram a prestar socorro.
E, não somente isso, fizeram piada dizendo que se não os queríamos
antes, para sermos removidos, que não os chamássemos naquele momento.
O tumulto se formou, mais de 200 pessoas estavam presentes protestaram
indignadas com o ocorrido. Esse era o papel que a polícia cumpria. Que
a guarda especial do Cid Gomes cumpria: criminalizar a juventude.
O Capitão Alex deu voz de prisão para as pessoas que se propunham
plateia de um show, mas que por conta das circunstâncias se tornaram
manifestantes ativos, e para as pessoas que estavam presentes e que
também se indignaram com o ocorrido. A chefia de segurança que agrediu
a estudante secundarista menor de idade pessoalmente não recebeu voz
de prisão, mas sim as pessoas que questionavam todo esse processo
absurdo.
Questionamos ainda mais: todo esse fato Foi agravado por que a maioria
as pessoas presentes eram homossexuais? Será que esse espaço –
construído com o dinheiro de milhões de pessoas que nunca poderão nem
sentar no chão da entrada, quem dirá numa cadeira – é realmente do
povo?
E, por último, se a polícia agiu com toda essa truculência conosco,
jovens universitários, na frente do Centro de Convenções, com mais de
uma centena de testemunhas, sem nenhum motivo minimamente plausível, o
que ela faz na periferia da nossa cidade com a juventude negra e
pobre? Com as mulheres? Com @s homossexuais que estão nas favelas?
Cláudia Araújo – Bando 17 de Maio
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