segunda-feira, 9 de agosto de 2010

o resgate do rádio para ouvintes e mercado

German Hartenstein*
“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”. A frase do narrador Fiori Gigliotti, anunciando o início de mais uma partida de futebol, está gravada na memória de muitos ouvintes  de rádio. Por décadas, a narração dos jogos de futebol era feita exclusivamente pelas rádios. A primeira delas foi em 1931, quando ouvintes de São Paulo acompanharam a narração de Nicolau Tuma (1911-2006) na Rádio Educadora Paulista. A partir daí, o rádio foi ganhando popularidade  na medida em que teve seu alcance ampliado. Para as gerações que cresceram antes do surgimento da TV, ou mesmo no início dela, é quase impossível não se lembrar das tardes de futebol sem ter o rádio como companhia. Era nas vozes de Osmar Santos, José Silvério e Fiori Gigliotti – para citar alguns exemplos – que o som se transformava em imagens, levando para o ouvinte as informações e emoções diretamente das concentrações, dos times nos estádios, com repórteres por todos os cantos.
Naquela época – décadas de 70 e 80 -, a TV ainda não trazia detalhes das partidas, informações dos times, bastidores. Sem contar que não havia TV por assinatura, emissoras dedicadas 24 horas por dia ao esporte nem a enxurrada de transmissões de futebol nacional em TV aberta, como existe hoje. O espetacular Show do Esporte, da TV Bandeirantes, tinha Luciano do Valle guiando um supertime por todas as modalidades – boxe, sinuca, vôlei, basquete, NBA, NFL. O futebol estava ali, também, mas na hora do grande clássico da rodada, de sentir o clima nos estádios, o caminho era o rádio.Já a internet, sequer existia para o grande público. Era o rádio, logo pela manhã, à tarde ou à noite, que acompanhava o ouvinte em casa, a caminho do trabalho ou no bar, junto a amigos ou na solidão, mas muitas vezes com o radinho de pilha colado ao ouvido. Cenas que com frequência são presenciadas nos estádios de futebol até hoje. Os talentos do rádio não estão necessariamente ligados ao esporte. O leitor deve se lembrar de alguns deles, como Zé Bettio e o seu balde d’água para acordar os mais sonolentos, José Paulo de Andrade e o seu Pulo do Gato, o genial “vambora, vambora” do Jornal da Manhã da Jovem Pan, Paulo Barbosa, Ely Correa, Gil Gomes e por aí vai.
Pois bem, com o avanço das novas mídias, principalmente da internet, muitos analistas decretaram o fim do rádio. Para eles, essa mídia não teria mais valor diante da programação da TV por assinatura ou do acesso, a qualquer momento, à internet. Mas os fatos dos últimos anos mostram que esse cenário de queda, cravado como uma certeza, está longe de apagar a importância do rádio para os ouvintes e, consequentemente, para o mercado. A cobertura da Copa do Mundo na África do Sul é uma prova concreta desse panorama no qual o rádio, reinventado e presente em diferentes mídias – como internet, celulares, iPod, entre outros aparelhos de última tecnologia -, ampliou seu canal de comunicação com o ouvinte, principalmente entre os jovens. Sem contar com as rádios online que, presentes na rede há alguns anos, se reinventaram nos últimos tempos, principalmente no universo de redes sociais. Há 30 anos o rádio não promovia uma cobertura tão completa como ocorreu na África do Sul. Com mais de 30 profissionais, a Eldorado ESPN levou a maior equipe em uma Copa e comprovou que o rádio continua gozando de alta popularidade.
Os valores de faturamento corroboram com esta análise. De acordo com pesquisa do Projeto Inter-Meios, do Grupo M&M, o faturamento das rádios no Brasil com vendas de espaço publicitário foi de R$ 354 milhões entre janeiro e maio de 2009, ante R$ 420 milhões no mesmo período em 2010 – um crescimento de 18,56%. A participação do meio no bolo publicitário em abril ficou acima da internet, TV por assinatura, do cinema, da mídia exterior e do setor de guias e listas.Nos próximos grandes eventos será possível mensurar se a recuperação do rádio é estável e duradoura. Mas, ao que tudo indica, ele está bem longe do fim, e continua tão emocionante como sempre foi. O espetáculo deve continuar.
*Diretor geral da Disney & ESPN Media Networks, no Meio e Mensagem

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