sexta-feira, 25 de setembro de 2009

VEJA ESTA ENTREVISTA COM O VICE - PRESIDENTE DA ABERT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO.

O rádio está vibrante no Brasil", afirma Emanuel Carneiro


Emanuel Carneiro, vice-presidente

O jornalista e vice-presidente da Abert, Emanuel Carneiro, afirma que o brasileiro não vive sem rádio. Por isso, esse meio de comunicação continua em alta no país e, em breve, deverá ter ainda mais abrangência, por meio da convergência tecnológica. No entanto, Carneiro alerta para o perigo das emissoras pirata, que ameaçam a segurança e a comunicação brasileira. Ouça o áudio.


1 - A quem diga que, em tempos de novas mídias e internet, o rádio está ameaçado. O que o senhor pensa sobre essa afirmação?
Para mim, nunca houve ameaça maior para o rádio do que a chegada da televisão ao Brasil nos anos 50, porque a televisão brasileira se consolidou em cima do rádio, dos grandes nomes do rádio, nomes do jornalismo, do esporte. Os humoristas, os radioatores, eles se transferiram para o rádio. E o rádio sobreviveu muito bem à era da televisão, criou novos modelos de programação, foi para a rua, se tornou dinâmico e, em seguida, veio também a transmissão em FM. E o rádio se renovou. Essas mídias que estão chegando e, principalmente a internet, vão ajudar o rádio a ter maior abrangência. Nós temos tido experiência de uma grande audiência que está se formando na internet das emissoras que colocaram seu som na rede e que estão fazendo programações específicas. Eu penso que as novas mídias estão ajudando e que o rádio não tem uma grande ameaça. Como outras mídias, ele também tem que ser repensado, não pode continuar fazendo as mesmas coisas de dez anos atrás. O rádio, nos dias atuais, tem que ser diferente, com mais interatividade, com mais participação do público e com uma postura mais agressiva junto ao mercado publicitário.

2. Como o senhor explica a relação de fidelidade de milhões de pessoas ao rádio?
Há alguns anos, a Abert criou um slogan que foi muito usado: brasileiro não vive sem o rádio. Fez peças publicitárias, as emissoras de rádio rodaram os spots. Eu penso que essa frase continua em instantâneo, chega a pontos distantes do território brasileiro, tem muita capilaridade. O rádio é íntimo das pessoas, companheiro, presta serviços, faz pedido de sangue para as pessoas necessitadas, localiza menores, transmite a emoção dos esportes, o noticiário, faz críticas. O rádio está muito vibrante, muito atuante, está pulsando nos dias atuais no Brasil.

3 – O senhor, que tem três décadas de vivência em rádio, pode nos falar sobre a importância social e cultural do rádio brasileiro?
O rádio propiciou inúmeras histórias. O Brasil era muito carente de comunicação telefônica. Qualquer local onde a rádio fosse transmitir um evento, era uma dificuldade muito grande. Essas barreiras foram vencidas, o rádio se segmentou. Hoje, numa cidade como Belo Horizonte, por exemplo, você tem emissora que só toca música sertaneja, que se especializou, emissora que só faz noticiário, emissora que só toca música estrangeira, emissora que só toca música brasileira, cada um na sua área de atuação. O rádio é farto em histórias, em prestação de serviço, ele deu, nesses anos todos, uma contribuição muito grande para a integração do Brasil. Veja que nós falamos a mesma língua, comemos arroz com feijão no Brasil inteiro. O Brasil se apaixonou pelo futebol através do rádio, canta as mesmas músicas de ponta a ponta. Essa integração, essa fala comum aos brasileiros, o rádio teve uma participação muito grande num momento em que havia um índice alto de analfabetismo e as pessoas não liam jornais ou revistas. O rádio era um elemento de ligação. Quando houve essa transferência muito grande da área rural para as cidades, essa transposição, o rádio foi o grande companheiro dessa população, com uma interatividade muito grande, levando para esse público um tipo de informação essencial que ajudou muitas pessoas a se encaixarem melhor nas grandes cidades.

4.A história do rádio é feita no dia-a-dia por milhares de comunicadores, que mai do que profissionais, são pessoas devotadas a esse ofício. O senhor lembraria algum comunicador cuja atuação se destacasse?
São tantos, não sei se são centenas ou milhares, mas tanta gente boa que passou pelo rádio e deu a sua contribuição. O rádio é, acima de tudo, uma paixão. O meu irmão Januário Carneiro, que fundou a rádio Itatiaia, tinha uma frase que era a seguinte: o rádio não enche o bolso, mas enche o coração. Quando você localiza uma criança desaparecida, quando você consegue salvar um enfermo conseguindo remédio ou dando uma informação importante sobre um incêndio, sobre uma enchente. Isso é característica do rádio e não há preço que pague esse retorno da audiência e essa gratidão que o público tem com relação ao rádio. Com respeito a nomes, muitos ainda estão no ar, com 40, 50 anos de atuação direta. Eu teria até dificuldade de citar nomes de pessoas que viveram o rádio a vida toda, mas quem não se lembra do Erão Domingues, do Repórter Esso, do Vicente Leporace, da Rádio Bandeirantes de São Paulo, do Januário Carneiro, do Amilton Macedo, do Osvaldo Faria e do Luiz Mendes, que está no ar até hoje na Rádio Globo, no Rio de Janeiro. Jorge Cury, Valdo Cosy, Ary Barroso, todos esses grandes nomes que passaram pela radiodifusão e que, muitos anos após o seu falecimento, permanecem vivos na memória da população.

5 – Qual a mensagem que o senhor deixa para os associados da Abert?
Com sinceridade, quando você me fez a pergunta sobre se o rádio está ameaçado, eu diria que não. Mas há fatos que estão prejudicando muito a nossa atividade. Por exemplo, há duas semanas, as emissoras de rádio do Brasil estavam transmitindo uma rodada do campeonato brasileiro. Os jogos, hoje, no domingo, começam às seis e meia, e foi requisitado espaço para uma rede de rádio e televisão para as oito horas da noite para uma palavra do presidente Lula. Tudo bem, o governo tem esse direito. O que ele iria falar deveria interessar a população brasileira, senão não teria requisitado a rede. De todas as formas tentou-se que essa fala fosse às oito e meia da noite, e não às oito horas. A diferença é mínima, e não houve boa vontade das pessoas que cuidam da assessoria do presidente em fazer essa modificação. Faltou sensibilidade. Eu vejo também muita dificuldade. Por exemplo, o horário da Voz do Brasil já deveria ter desaparecido, isso é uma coisa de 1937. Não justifica mais parar todo o rádio brasileiro às sete horas da noite para dar as notícias que as emissoras já deram há muito mais tempo. Isso não tem audiência mais, não tem interesse da população. Isso é uma teimosia, o rádio tem lutado e, muitas vezes, não consegue essa liberdade para colocar no ar a programação que mais lhe interessa. A todo o momento há alguma coisa querendo influenciar o rádio, tomar os nossos espaços. Os horários políticos são uma violência, é uma imposição à população. Eu vejo com um pouco de desânimo essa falta de compreensão de que o rádio, embora seja uma concessão do governo federal, tem de ser tocado como um empreendimento comercial e, se você começar a dar os seus espaços, ceder horários, você compromete a sua atividade financeira e aí a coisa não funciona bem. E, como um último assunto, a grande ameaça que eu vejo, principalmente no interior, é que a pirataria no rádio, nas freqüências de FM pelo Brasil afora, está virando um fato de calamidade pública, ameaçando a aviação, as comunicações, e pouca coisa tem sido feita para estancar essa proliferação de rádios piratas.

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