ARTIGO. Armando Vasconcelos, um nome
Eu não tive oportunidade de trabalhar ao lado de Armando Vasconcelos, embora tenha começado em Fortaleza no mesmo local onde ele fez nome. Quando cheguei aqui, vindo do interior, ele já havia deixado a Rádio Iracema. No edifício Guarany, ali na praça José de Alencar, animava auditórios, além de ser a voz oficial da emissora na crônica do meio dia “Doa a Quem Doer”.
Era dele também, a voz da chamada da hora certa. Aquela que passava ‘meia hora’ anunciando: “Casa Bicho, o rei dos chapéus finos Cury e Ramezzoni. Casa Bicho, o camiseiro da cidade. Casa Bicho, o gravateiro dos elegantes. E a Casa Bicho informa a hora certa...” Depois é que operadores como Chaves, Soneca e outros abriam aquele microfone especial que voltou a ser visto na sede da AM DO POVO, na ante sala que dava para os estúdios.
Armando Vasconcelos é de uma época em que o rádio exigia do profissional da locução alguns critérios de seleção: voz, técnica, leitura, dicção, conhecimento do veículo e, principalmente, informação. Se hoje em dia, acusam o rádio de aceitar qualquer um que descumpra alguns desses itens, é que não há nem mesmo seleção. Algumas das empresas vivem oferecendo a quem passa na calçada a chance de trabalhar no rádio. Basta que compre um horário a um determinado preço. No passado não era assim.
Armando Vasconcelos é do naipe de radialistas que marcaram uma época. Quando o rádio era a pura emoção. Nele se fazia o sucesso das paradas musicais. Os ídolos eram os cantores do rádio, que eram feitos à base da divulgação que os radialistas faziam.
O que hoje é sucesso na TV em termos de novela, tudo vem do rádio. Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro, Dias Gomes, Janete Clair, Armando Bogus – tudo chegou via rádio.
Armando não fez radio-novela, mas teve importância na área em que projetou seu nome. Foi no programa dele que surgiu Ayla Maria, descoberta a partir dos pastoris que se apresentavam na praça José de Alencar. Ela acabou sendo ‘a voz orgulho do Ceará’, slogan cunhado pelo próprio Armando e que junto com Ivanilde Rodrigues repetia na ‘taba de Iracema’ a guerra nacional que dividia públicos entre Marlene e Emilinha Borba.
Armando foi para a TV onde atuou na TV Ceará, TV Uirapuru (depois Cidade), onde por longos 23 anos apresentou o seu “Armando Vasconcelos”, capitaneado pelo bordão: “meus amigos...”.
Pouca gente sabe que Armando Vasconcelos é da mesma família dos Ponte – Alan Neto, Híder e Sérgio Ponte, eles próprios reconhecidos pela ajuda que, provavelmente, o nome Armando lhes proporcionou.
Armando é uma fase do rádio que terminou com a chegada da TV e que passaria a exigir dos locutores mais improviso, menos empostação de voz e – apesar do que citei anteriormente – um bom conhecimento sobre tudo. Afinal, o rádio é plural. Exige, no mínimo, conhecimento do meio e do mundo para chegar a ser um profissional de singular renome.
NONATO ALBUQUERQUE - BLOG GENTE DE MÍDIA
Um comentário:
Concordo com todos os comentários sobre o profissionalismo e a competência de Armando Vasconcelos.
Agora, a crônica ao tempo de Armando Vasconcelos não se chamava "Doa A quem doer" e, sim, "Doa EM quem doer" e seu prefixo/sufixo musical era "Down Yonder" com o grupo de fox-trot americano Frank Petty Trio, em gravação Decca, de 1951.
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