MÍDIA RADIOFÔNICA
Há ainda o que ouvir em ondas curtas?
Por Célio Romais em 25/07/2011 na edição 652
O que resta para nós, que estamos acostumados a ligar o receptor de ondas curtas entre chiados e desvanecimentos do sinal para ouvir uma gama infinita de informações, músicas e notícias que outros veículos de comunicação não proporcionam?
Ao ligar o receptor, nos últimos tempos, tiro algumas conclusões. Antes de mais nada, ao contrário do que possa parecer, há ainda um número considerável de estações que podem ser ouvidas. Algumas emissoras deixaram de transmitir em ondas curtas, é verdade. Mas, por outro lado, outras que existiam chegaram a fortalecer suas emissões: algumas aumentaram horas de transmissões; outras remodelaram seus transmissores; e, por fim, outras inventaram um modo alternativo de permanecer nas ondas curtas sem precisar gastar muito – as emissões neste modo são caras, pois os transmissores demandam muita energia elétrica – para poder chegar aos quatro cantos do planeta.
Cultura de outros povos
No primeiro caso, podemos citar a Rádio Exterior, da Espanha, que há cerca de quatro anos passou a transmitir em português para o Brasil, e a Rádio Internacional da China, presente nas ondas curtas em diversas frequências, em horários diversos, em 38 idiomas. No segundo caso, o exemplo é a Rádio Romênia Internacional, que investiu em novos equipamentos e tornou seu sinal audível a qualquer hora do dia aqui no Brasil, em emissões que são direcionadas para outros continentes. Tal modo de agir deixa para trás os tempos em que os ouvintes brasileiros da Rádio Romênia precisavam ter antenas sofisticadas para acompanhar a programação em português, que, aliás, foi encerrada há cerca de uma década, justamente por problemas ocasionados por uma transmissão que saía de equipamentos sucateados. No terceiro caso, encontramos as rádios Praga e Eslováquia, que, embora fechando seus parques transmissores, conseguiram permanecer nas ondas curtas por meio de uma parceria com outra estação, no caso com a Rádio Miami Internacional.
E o que mais teríamos para ouvir? Em se tratando de Brasil, temos emissoras comerciais que permanecem transmitindo em ondas curtas, como as rádios Bandeirantes, de São Paulo (SP), Brasil Central, de Goiânia (GO), Gaúcha, de Porto Alegre (RS) e a Inconfidência, de Belo Horizonte (MG), que, após quase duas décadas, reativou sua frequência de 15190 kHz, na faixa de 19 metros. Mundialmente, ainda temos a Voz da Rússia firme e forte, assim como a Rádio Havana Cuba, que possui bons equipamentos e pode ser captada facilmente.
Por tudo isso, acredito que teremos um tempo razoável para ouvir emissoras de ondas curtas nos próximos anos. De mais a mais, caso o modelo de ondas curtas digitais – o Digital Radio Mondiale – obtenha êxito, teremos que trocar os receptores e seguiremos firme na sintonia de emissões a longa distância.
Acreditamos que as ondas curtas, neste panorama, ainda são uma forma dinâmica e ágil de acompanhar a cultura de outros povos, bem como ter contato com a informação sob outra ótica.
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[Célio Romais é jornalista e radioescuta]
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