“BIG BROTHER” BRASIL: MAIS UMA DEMONSTRAÇÃO DA PÉSSIMA QUALIDADE DA TV BRASILEIRA Novo!
Itamar Maschioitamarmaschio@gmail.com
- Publicado em
- 2011-01-17
Com o aumento do poder aquisitivo, os brasileiros das classes menos favorecidas aumentaram ou passaram a consumir mais, especialmente eletrodomésticos. Um dos eletrodomésticos que teve aumento considerável em sua vendas foram os televisores.
Numa leitura errada do que realmente as classes mais baixas gostariam de ver, os canais abertos de televisão foram, gradativamente, baixando a qualidade de sua programação. No início dos anos 2000 começaram a surgir, nas grandes redes de televisão do Brasil, os chamados “reality-shows”, sendo que destes o que mais se destacou e que se mantém no ar a uma década é o “Big Brother Brasil”, da Rede Globo de Televisão.
Desde 2002, Pedro Bial comanda esse programa, sempre no início do ano. Desde sua primeira veiculação o programa vem sendo, a cada início de ano, motivo de muitas discussões entre os que o defendem e os que o criticam como sendo um programa que em nada contribui para a qualidade da programação da TV no Brasil. No meu caso me incluo neste segundo grupo.
O programa é esvaziado de qualquer tipo de carga cultural, pois seu grande e único atrativo são as conversas, brigas e “disputas” de alguns aspirantes a celebridades, que não medem esforços e tão pouco conseqüências, para alcançarem a “fama” e talvez alguns milhões de reais no bolso para aquele que for o “vencedor”.
O jornalista gaúcho, Marcos Rolim já em 2002 tecia em seu site comentários sobre o assunto onde dizia que “a TV brasileira acaba de dar mais um passo em direção ao nada; aliás, dois passos: "Big Brother Brasil", da Globo e "Casa dos Artistas", do SBT assinalam, ambos, uma aposta persistente no vácuo cultural”.
O programa se consagrou, pois prometia mostrar pessoas comuns em seu cotidiano, fato que certamente não é verdade, pois as pessoas são escolhidas de forma criteriosa para participarem do programa. Pretender dizer que estas pessoas são representantes dos brasileiros, ou afirmar “que os brasileiros se vêem dentro da casa através dos participantes” é mentira, pois certamente aqueles que lá estão “confinados” não são o retrato do povo brasileiro.
Como, novamente, bem destacou Rolin (2002):
Há, de início, duas mentiras nos programas: as pessoas convidadas não são, exatamente, "pessoas comuns": são, em regra, jovens adultos da classe média que compartilham as características da ambição e da superficialidade. Em segundo lugar, as cenas não são de "flagrantes da vida privada" uma vez que todos sabem que estão sob a luz dos refletores; o espaço que habitam, então, é público por definição. Nenhum deles está em uma "casa", mas em um "palco". A diferença é que não há enredo, nem peça, nem filme. Não há qualquer proposta estética, nem diretores ou artistas. O que há, então? Há uma farsa na qual reserva-se lugar para tudo, menos para o pensamento. Há, especialmente, espaço para a grosseria e o grotesco, para o preconceito e para a ausência de conceito, para a linguagem vulgar e para a vulgaridade sem linguagem.
Certamente o programa dá retornos a emissora, pois já se mantém no ar há vários anos. No entanto alguns estudos apontam que cenas de sexo e violência podem não ser bem aceitas pelos telespectadores, em médio prazo. O “Big Brother” não apresenta cenas de sexo explícito e raramente se viu violência física, mas são comuns cenas que insinuam sexo debaixo dos edredons. A violência física não se faz presente, mas ofensas verbais, com uso de palavras de baixo calão são comuns.
Em termos comerciais, o que inicialmente pode ser lucrativo para os patrocinadores desses programas, pode não ser assim tão lucrativo no final. Segundo o consultor Carlos Alberto Di Franco (2004) citando uma pesquisa da Universidade de Iowa (EUA) “os pontos de audiência conquistados pelas emissoras de TV com a exibição de cenas de sexo e de violência podem representar uma miragem para o mercado publicitário”.
Ainda segundo Di Franco,
O estudo detectou uma dupla ação das chamadas “telas quentes”: ao mesmo tempo que atraem mais telespectadores, elas inibem a memória do público na hora do intervalo comercial. Segundo o professor Brad Bushman, coordenador da pesquisa Violence and Sex Impair Memory for Television Ads (Violência e Sexo Prejudicam a Memória para Anúncios de Televisão), “as propagandas veiculadas em programas sem sexo e sem violência, o que chamamos de ‘neutros’, têm mais ‘recall’ do que os exibidos no intervalo de filmes e seriados com esses elementos”.
Em outras palavras podemos dizer que esses tipos de programas deixam seus telespectadores ignorantes. De acordo com o site NotíciasBR, na edição de 2011 o programa de estréia do “Big Brother” alcançou 35% de audiência média, superando 2010. Para se ter uma idéia da importância que o “Big Brother” Brasil tem em termos de audiência, o Jornal Nacional, da mesma Rede Globo, que até bem pouco tempo emplacava as maiores audiências da emissora, fechou o ano de 2010 com média de audiência de 29,8%, conforme matéria publicada no blog R7 Entretenimento, no dfia 05 de janeiro de 2011.
Mesmo sofrendo fortes críticas, muitas vezes dos próprios telespectadores, são esses elevados números de audiência que mantém esse famigerado programa no ar, por praticamente uma década. Além da audiência, outro fator que mantém o programa no ar, por tanto, tempo é o elevado faturamento que ele proporciona aos seus produtores, apresentadores e veiculadores.
Segundo matéria do jornalista Daniel Castro, publicada no blog R7 Entretenimento em 07 de abril de 2010, a edição 10 do “Big Brother” Brasil faturou a bagatela de pouco mais de R$ 340 milhões em receitas, batendo outro recorde do reality show. O aumento, em relação ao BBB 9, foi de 20%.
Um dos grandes “atrativos” do programa sempre foram as brigas entre os participantes. Mesmo os “Brothers” tendo protagonizado discussões “memoráveis” nunca houve agressão física de fato, pois isso era proibido pelas “regras” do programa. Sim eram, pois de acordo com o site estadão.com.br em matéria publicada no dia 25 de novembro de 2010, o diretor do BBB, Boninho afirmou que “"Nada é proibido no BBB, pode fazer o que quiser", escreveu em seu perfil no twitter. "Esse ano... liberado! vai valer tudo, até porrada" .
A Rede Globo se apressou em desmentir Boninho. A assessoria de imprensa da emissora divulgou, no dia 26 de novembro de 2010, um dia após a veiculação das declarações de Bonino que “qualquer agressão física [no “Big Brother” Brasil 11] seguirá sendo punida com expulsão” . No entanto, no dia 11 de janeiro de 2011 o site MSN Entretenimento divulgou que o diretor Boninho voltou a afirmar que as agressões estão liberadas na atual edição do BBB. Segundo o site Boninho afirmou que “para faturar o prêmio de R$ 1,5 milhão, vale mesmo tudo, inclusive agressões físicas” . Ainda segundo o mesmo site na manhã deste domingo (8 de janeiro de 2011), o diretor do programa revelou que faria uma visitinha aos “brothers” no hotel onde estão confinados, para um repasse nas regras do reality show, e enfatizou o fim da proibição das agressões físicas. Sim, agora os participantes poderão sair na mão sem medo da desclassificação!
Agora é aguardar para ver quem está falando a verdade. E que Deus nos proteja.
NOTAS
Disponível em http://rolim.com.br/2006/index.php?option=com_content&task=view&id=9&Itemid=3. Acesso em 04 jan. 2011.
Disponível em http://rolim.com.br/2006/index.php?option=com_content&task=view&id=9&Itemid=3. Acesso em 04 jan. 2011.
Disponível em: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo311.shtml. Acesso em 10 de jan. 2011.
Disponível em: http://www.noticiasbr.com.br/bbb11-estreia-do-bbb-supera-audiencia-do-ano-passado-5210.html. Acesso em: 14 jan. 2011.
Disponível em: http://entretenimento.r7.com/famosos-e-tv/noticias/jornal-nacional-encerra-2010-com-pior-audiencia-da-historia-20110105.html. Acesso em: 14 jan. 2011.
Disponível em: http://noticias.r7.com/blogs/daniel-castro/2010/04/07/em-3-meses-big-brother-fatura-o-mesmo-que-sbt-em-meio-ano/. Acesso em: 12 jan. 2011.
Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,boninho-promete-tudo-liberado-no-bbb-11,645194,0.htm. Acesso em: 12 jan. 2011.
Disponível em : http://www.jfnoticias.com/interativo/blog/rede_globo_nega_que_ira_liberar_agressao_fisica_no_bbb_11. Acesso em 12 jan. 2011.
Disponível em: http://entretenimento.br.msn.com/bbb/noticias-artigo.aspx?cp-documentid=27182296. Acesso em: 14 já. 2011. Sobre o Autor
Possui graduação em CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO PÚBLICA pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (2009). Acadêmico do quinto semestre do CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS / ESPANHOL pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Atualmente é agente administrativo da Prefeitura Municipal de Tapejara. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração Pública.
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