iDEIAS
Noel Rosa
13/12/2010Neste dezembro, completa-se e se contempla o primeiro centenário de Noel Medeiros Rosa. Um meu quase colega. Um viajador de sonho. Um verso suave. De moldura fácil. Lírico como o riso ou como o acalanto. De prosa mais elevada que o Lupicínio. Mais barroca e mais bem burilada. Porém de quase chão. Terno. Simples. Deixava-se ir pela poesia que debruçava-se sobre si. Nasceu ao Natal achegar-se. Daí o nome Noel (Natal é Noel em francês). Oriundo de uma família de classe média alta, foi aluno do Colégio São Bento do Rio de Janeiro.
Enquanto tinha a poesia escorrendo, líquida, veio de um doloroso nascimento. De um curso pleno de tropeços. Ao nascer teve como assistente, um estudante de medicina, que temeu pela sua vida. Temeroso da vida da mãe e do nascituro, apressadamente se valeu do seu professor. Mesmo assim, Noel, teve um fórceps alto, extremamente complicado. Teve sua mandíbula esmagada. E levou consigo a tortura do nascimento. O livro de João Máximo e Carlos Didier, uma preciosidade, insiste no Noel desatento aos seus estudos. Gênio não precisa estudar tanto.
Talentoso, divinizou e qualificou o canto maior nosso: o samba. O samba desceu do morro, e foi para o asfalto com a genialidade do feitiço da vila. Noel navegou na poesia, na musica e na crônica, como diz Sergio Cabral. Parceiro de Lamartine Babo, passeou do carnaval à dor machucada de cotovelo. Mas quando Noel insiste em anatomia é um desastre. Fala de veia aorta. Fala de coração, órgão propulsor e transformador de sangue venoso para sangue arterial. Noel jamais seria brilhante na medicina. Ciente disto, abandonou a faculdade, para desgosto de seus pais. Fez bem. Teríamos um médico medíocre e perderíamos um compositor fantástico. Talentoso. Criativo. Harmonioso. Verso doce. Naufraga com suavidade, embelezando uma poesia simples e maviosa.
Abatido pela tuberculose, Noel, morreu tão precocemente. Golfadas de sangue, o levaram a se valer de Belo Horizonte. Anos depois a poesia musical viu nascer Chico Buarque. Chico, o celebre, Noel é imensamente encantador.
José Maria Bonfim de Morais - cardiologista
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