A singularidade do rádio como veículo de comunicação reside no fato de que é o ouvinte quem faz a cena. É o ouvinte quem cria, a partir do que ouve, o cenário do que está sendo dito, sugerido ou representado. O locutor, o repórter, o ator ou mesmo o cantor, são meros deflagradores de um processo que está na cabeça, na imaginação de cada um. Por isso, o resultado da comunicação pelo rádio é incontrolável. Ela é sempre mágica, volitiva, etérea, uma quimera – quase celestial. Essa característica imponderável do rádio entre nós brasileiros parece ter vindo das primeiras experiências com as transmissões de sinais – como o código Morse – e da voz humana. É bom lembrar que entre os inventores do rádio como ainda hoje o conhecemos consta a participação de um padre brasileiro: o padre Roberto Landell de Moura. O insólito é que ele pagou caro pelo “pecado” de ter inventado um equipamento, que embora rudimentar, levava a voz humana e outros sons a distâncias consideráveis sem ter nenhuma conexão física entre um ponto e outro.
A Igreja Católica e o governo Federal da época (final do século XIX), embora não oficialmente, em uníssonos manifestaram seu espanto ignorante atribuindo ao padre-cientista pactos ocultos como demônio. Com isso o governo retardou as patentes requeridas para reconhecimento das experiências para invenção do rádio e a igreja calou o padre.
Com a atitude refratária dos mentores da fé do religioso e do governo que deveria defender seus direitos, o Brasil perdeu a prioridade no reconhecimento da invenção do rádio que então foi atribuída ao pesquisador italiano Guglielmo Marconi por ter documentação referente às suas descobertas.
Landell de Moura com a pecha de louco e bruxo foi para os Estados Unidos onde finalmente conseguiu patentear suas descobertas. “Sendo morador de um país ainda essencialmente agrário, Landell acabou não conseguindo a projeção e o patrocínio necessários para fabricar comercialmente o seu invento. Desanimado com o resultado de seu esforço intelectual, acabou indo para os Estados Unidos a fim de patentear seus inventos transmissores de informação e voz. Em outubro de 1902, o jornal norte-americano “The New York Herald” falou de seus inventos e realizou uma entrevista com o clérigo brasileiro” (Site História do Mundo).
Ao voltar para o Brasil, o padre-cientista retoma os contatos com o governo Federal para financiar os protótipos que havia desenvolvido, mas uma vez mais foi vencido. “Em 1905 o Padre Roberto Landell soube que o presidente Rodrigues Alves disponibilizara dois navios da esquadra brasileira para publicamente demonstrar a transmissão de voz sem fios, porém mandou um de seus assessores que não pôs fé no seu invento, e ainda o caluniou de lunático. Um dia após o encontro, Landell recebe um telegrama do presidente Rodrigues Alves cancelando a demonstração sem maiores explicações”.(Site História da Comunicação no Brasil).
Roberto Landell de Moura abandonou a pesquisa e recolheu-se às atividades religiosas.
No dia 21 de janeiro de 2011 estaria fazendo 100. Por enquanto, o único ato público anunciado é a homenagem que um grupo de admiradores ligados ao radioamadorismo e à radiodifusão vão fazer ao inventor. Entre os organizadores está o radioamador e pesquisador “Ivan Dorneles Rodrigues, fundador do Memorial Landell de Moura. Ele reuniu em local de sua propriedade, no bairro Menino Deus, em Porto alegre, um vasto acervo sobre o religioso. Entre os itens em exposição estão jornais antigos, livros, documentos e uma réplica do transmissor de ondas patenteado por Landell de Moura no Estados Unidos”. (Site Caros Ouvintes).
Refletindo sobre a falta de reconhecimento ao pioneirismo de Landell de Moura e o pouco caso com que continuamos vendo o rádio, percebe-se que a comunicação por esse meio vai continuar sendo incontrolável, enquanto for tratada como um sonho incompatível com a realidade.
Retirado do site www.carosouvintes.org.br
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